terça-feira, 30 de outubro de 2007

Dia do Livro


"Um país se faz com homens e livros."

(Monteiro Lobato)


Ontem foi comemorado o dia do livro. A data foi pouco lembrada pela imprensa e passou despercebida até mesmo por este blog.

Mas, antes tarde do que nunca né?!!!

Fica aqui a nossa lembrança.
VERBOS NOVOS E HORRÍVEIS...(Ricardo Freire)

Não, por favor, nem tente me disponibilizar alguma coisa, que eu não quero. Não aceito nada que pessoas, empresas ou organizações me disponibilizem. É uma questão de princípios. Se você me oferecer, me der, me vender, me emprestar, talvez tope. Até mesmo se você tornar disponível, quem sabe, eu aceite. Mas, se você insistir em disponibilizar, nada feito.
Caso você esteja contando comigo para operacionalizar algo, vou dizendo desde de já: pode ir tirando seu cavalinho da chuva. Eu não operacionalizo nada para ninguém, nem compactuo com quem operacionalize.
Se você quiser, eu monto, eu realizo, eu aplico, eu ponho em operação. Se você pedir com jeitinho, eu até implemento, mas operacionalizar, jamais.
O quê? Você quer que eu agilize isso para você? Lamento, mas eu não sei agilizar nada. Nunca agilizei. Está lá no meu currículo: faço tudo, menos agilizar. Precisando, eu apresso, eu ponho na frente, eu "dou um gás". Mas agilizar, desculpe, não posso, acho que matei essa aula.
Outro dia mesmo queriam reinicializar meu computador. Só por cima do meu cadáver virtual. Prefiro comprar um computador novo a reinicializar o antigo. Até porque eu desconfio que o problema não seja assim tão grave. Em vez de reinicializar, talvez seja o caso de simplesmente reiniciar, e pronto.
Por falar nisso, é bom que você saiba que eu parei de utilizar. Assim, sem mais nem menos. Eu sei, é uma atitude um tanto radical da minha parte, mas eu não utilizo mais nada. Tenho consciência de que, a cada dia que passa, mais e mais pessoas estão utilizando, mas eu parei. Não utilizo mais. Agora só uso. E recomendo. Se você soubesse como é mais elegante, também deixaria de utilizar e passaria a usar.
Sim, estou me associando à campanha nacional contra os verbos que acabam em "ilizar". Se nada for feito, daqui a pouco eles serão mais numerosos do que os terminados simplesmente em "ar". Todos os dias, os maus tradutores de livros de marketing e administração disponibilizam mais e mais termos infelizes, que imediatamente são operacionalizados pela mídia, reinicializando palavras que já existiam e eram perfeitamente claras e eufônicas.
A doença está tão disseminada que muitos verbos honestos, com currículo de ótimos serviços prestados, estão a ponto de cair em desgraça entre pessoas de ouvidos sensíveis. Depois que você fica alérgico a disponibilizar, como vai admitir, digamos, "viabilizar"? É triste demorar tanto tempo para a gente se dar conta de que "desincompatibilizar" sempre foi um palavrão.
Precisamos reparabilizar nessas palavras que o pessoal inventabiliza só para complicabilizar. Caso contrário, daqui a pouco nossos filhos vão pensabilizar que o certo é ficar se expressabilizando dessa maneira. Já posso até ouvir as reclamações: "Você não vai me impedibilizar de falabilizar do jeito que eu bem quilibiliser".
Problema seu e da vilipendiada lingua portuguesa. Me inclua fora dessa.

"Até quando, ó Catilina, abusarás da nossa paciência?(...)"

Marcos Tullius Cicero, orador, politico e intelectual romano, em seu discurso contra Catilina, que fora derrotado por ele nas últimas eleições para cônsul. Catilina preparava uma conspiração para assassinar Cícero, mas foi desmascarado e morreu no ano seguinte.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Clareza é tudo

Pontuação


Sentindo a proximidade da morte, uma milionária dona de uma grande multinacional pediu papel e caneta e escreveu de maneira sucinta o seu testamento:

- Deixo os meus bens à minha irmã não a meu sobrinho jamais será paga a conta do alfaiate nada aos pobres.

Tomada de mal repentino, não teve tempo de executar a pontuação no texto que acabara de escrever – e morreu. A quem ela deixava a fortuna que tinha? Eram quatro os concorrentes.

Chegou o sobrinho e fez estas pontuações numa cópia do testamento:

- Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho. Jamais será paga a conta do alfaiate! Nada aos pobres!

A irmã do falecida chegou, com outra cópia do texto do testamento, e pontuou-o nestes termos:

- Deixo meus bens à minha irmã. Não a meu sobrinho! Jamais será paga a conta do alfaiate! Nada aos pobres!

Surgiu então o alfaiate que, pedindo a cópia do testamento original, fez estas pontuações:

- Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do alfaiate. Nada aos pobres!

E o litígio estava formado, quem herdaria? O juiz estudava o caso, quando chegaram os pobres da cidade. Um deles, mais sabido, tomando outra cópia do testamento, pontuou-o assim:

- Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do alfaiate? Nada! Aos pobres!

Moral da história: Clareza é tudo.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Para aqueles filósofos de ocasião, instruídos em mesa de bar:

"Só há uma coisa pior no mundo do que ficar falado: é não ser falado"

Oscar Wilde

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Canção da plenitude

Não tenho mais os olhos de menina nem corpo adolescente, e a pele translúcida há muito se manchou.Há rugas onde havia sedas, sou uma estruturaagrandada pelos anos e o peso dos fardos bons ou ruins.(Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.)O que te posso dar é mais que tudo o que perdi: dou-te os meus ganhos.A maturidade que consegue rir quando em outros tempos choraria, busca te agradar quando antigamente quereria apenas ser amada.Posso dar-te muito mais do que beleza e juventude agora: esses dourados anos me ensinaram a amar melhor, com mais paciênciae não menos ardor, a entender-te se precisas, a aguardar-te quando vais, a dar-te regaço de amante e colo de amiga, e sobretudo força — que vem do aprendizado. Isso posso te dar: um mar antigo e confiável cujas marés — mesmo se fogem — retornam, cujas correntes ocultas não levam destroços mas o sonho interminável das sereias.
Lya Luft
O texto acima foi extraído do livro “Secreta Mirada
"No caminho para a Faculdade, vi hoje uma pixação no mínimo curiosa: "político bom é político morto". Interessante é que ela deve ter sido feita por algum militante político, uma contradição, portanto. Lembrei-me da origem da palavra idiota: idiotes, em grego, ou seja, aquele que não gosta de política. Não se pode confundir os políticos com os "políticos". No mais, de algum modo, somos todos potencialmente corruptos ou burladores da lei. Tudo é questão de maior ou menor vigilância. Falei outro dia aqui que vi Tropa de Elite numa cópia piratex? Então, não sou desonesto de alguma forma?"

Eduardo Rabenhorst

segunda-feira, 8 de outubro de 2007




"Começamos oprimidos pela sintaxe e acabamos às voltas com a Delegacia de Ordem Política e social, mas, nos estreitos limites a que nos coagem a gramática e a lei, ainda nos podemos mexer."




Graciliano Ramos

sexta-feira, 5 de outubro de 2007


"Sempre tive pensamento baço, com juízo seco. Porque eu, meu neto, eu era ainda muito novo quando desatei a envelhecer. Tal como agora: comecei a morrer ainda vivo. Ir falecendo assim sem dar conta, isso não me dava custo. Mas ficar velho sim. Esse entorpecimento me dava apenas tristeza. Pior, me dava vergonha. Esse declínio me vergava a um peso que vinha de dentro, como se estivesse engravidando do meu próprio falecimento e sentisse a presença crescente, dentro de mim, desse feto que era minha própria morte. (...) Viu? Sempre acabamos por desembocar nelas, as malfiguradas mulheres. No princípio, elas estavam fora de minhas razões. À medida que a idade me consumia eu ia ficando mais capaz de entender as mulheres. Quanto menos as podia amar, mas eu ganhava um outro afeto por essas criaturas. Menos eu precisava de corpo para saltar por cima de suas belezas, mais elas me ficavam próximas, quase parecidas"

Mia Couto (Um rio chamado tempo. Uma casa chamada terra).

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

A dificil arte de agradar

Quem pauta sua vida em querer agradar Gregos e Troianos estará fadado a não satisfazer nenhum deles. É preciso que se entenda que o compromisso maior do homem, a princípio, é agradar a sim mesmo mas com o olhar extendido a coletividade, ao bem comum, quando isso for possível, claro.

Diz a lenda:

Um velho e um garotinho iam viajando sobre um jumento por um vilarejo, quando de repente foram interrompidos por um homem que os indagava:

- Vocês não se envergonham de viajar em cima desse pobre animal?

Então o velho, envergonhado, desceu da sua condução, deixou somente a criança nela e seguiram viagem.

Mas adiante eles são novamente parados por uma mulher, que, admirada, pergunta ao garotinho:

- Menino, como você é capaz de viajar sobre este animal, enquanto este pobre velho vai a pé? Você não se envergonha disto?

O garoto, enrubescido, desceu do animal, cedendo seu lugar ao velho. E novamente seguiram seu rumo.

Mas, por ironia do destino, mais uma vez o trajeto foi interrompido, agora por um jovem que questionou o velho:

- O senhor não se intimida em viajar sobre este jumento, enquanto essa pequena criança vai a pé?

O velho e a criança então olharam um para o outro e fizeram um ar de indagação, tipo: “quem pode agradar a todas as pessoas?”

E decidiram que, dali em diante, não iriam ouvir os palpites de mais ninguém. Montaram no jumento e foram-se embora.