segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Canção do exílio - Casimiro de Abreu

Se eu tenho de morrer na flor dos anos
Meu Deus! não seja já;
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
Cantar o sabiá!

Meu Deus, eu sinto e tu bem vês que eu morro
Respirando este ar;
Faz que eu viva, Senhor! dá-me de novo
Os gozos do meu lar!

O país estrangeiro mais belezas
Do que a pátria não tem;
E este mundo não vale um só dos beijos
Tão doces duma mãe!

Dá-me os sítios gentis onde eu brincava
Lá na quadra infantil;
Dá que eu veja uma vez o céu da pátria,
O céu do meu Brasil!

Se eu tenho de morrer na flor dos anos
Meu Deus! não seja já!
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
Cantar o sabiá!

Quero ver esse céu da minha terra
Tão lindo e tão azul!
E a nuvem cor-de-rosa que passava
Correndo lá do sul!

Quero dormir à sombra dos coqueiros,
As folhas por dossel;
E ver se apanho a borboleta branca,
Que voa no vergel!

Quero sentar-me à beira do riacho
Das tardes ao cair,
E sozinho cismando no crepúsculo
Os sonhos do porvir!

Se eu tenho de morrer na flor dos anos,
Meu Deus! não seja já;
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
A voz do sabiá!

Quero morrer cercado dos perfumes
Dum clima tropical,
E sentir, expirando, as harmonias
Do meu berço natal!

Minha campa será entre as mangueiras,
Banhada do luar,
E eu contente dormirei tranqüilo
À sombra do meu lar!

As cachoeiras chorarão sentidas
Porque cedo morri,
E eu sonho no sepulcro os meus amores
Na terra onde nasci!

Se eu tenho de morrer na flor dos anos,
Meu Deus! não seja já;
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
Cantar o sabiá!


O poeta Casimiro José Marques de Abreu, ou Casimiro de Abreu, ( Barra de São João, Rio de Janeiro 4 de janeiro de 1839 - Nova Friburgo, Rio de Janeiro 18 de outubro de 1860) - Foi um dos poetas mais populares do Romantismo Brasileiro. Colaborou com as revistas O Espelho, Revista Popular, A Marmota e com o Jornal do Correio Mercantil. Foi escolhido por Teixeira de Melo para patrono da cadeira nº 6 da Academia Brasileira de Letras no momento de sua fundação.


Fonte: Blog do Ricardo Noblat

2 comentários:

Jairo Alves disse...

O saudoso e mais do que romântico, Casimiro de Abreu, foi um dos poetas brasileiros, que, soube guardar em sua memória, as suas primeiras sombras:
"As sombras das bananeiras, debaixo dos laranjais"...
E contudo, eleva-se-as para toda sua vida, filmada e assistida por seus momentos de maior satisfarção poetica e divina!...
E em Canção do exílio, obra da magnitude de Gonçalves Dias, mas que, ele em si, juntou-a há dois campos aspirantes; os quais, lhe atribuiam e o enalteciam ao ponto de encontrar as respostas de suas dores: que uma, da canção do exílio, expressando a saudade pela pátria e Canção do exílio, de sua autoria, também sentindo esta falta e, tanto mais do que isto, que lhe fez compor a obra, como o mesmo diz:
Se eu tenho de morrer na flor dos anos,
Meu Deus! não seja já;
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
Cantar o sabiá!
Quer dizer, está claro que ele estava apreciando a sua infância e apelando para que a sua morte não viesse tão cedo. Pois com toda sua apreciação poetica, queria viver nela até a eternidade...
E quantas saudades nos deixou,o nosso queridíssimo Casimiro de Abreu?...

Unknown disse...

A GENTE VAI FICANDO VELHO E COMEÇA A ENTENDER MELHOR OS VERSOS COMO ESSE. JÁ LÍ NA BÍBLIA UMA FRASE DE UMA PESSOA (NÃO ME LEMBRO DE QUEM ERA AGORA), QUE DIZIA ESTAR...CANSADO DE DIAS. (JÁ PENSOU A ALGUEM QUE ESTÁ CANSADO DE DIAS...PARECE QUE VAI CHEGAR UM MOMENTO NA VIDA QUE VAI SER ASSIM).MAS O IMPORTANTE É SE DEIXAR JOGAR NOS GRAÇOS DO PAI !!! AMÉM !!!