domingo, 20 de dezembro de 2009

Entrevista - Profª Terezinha da Silva Almeida


“Somos o que repetidamente fazemos. A excelência, portanto, não é um mérito, mas um hábito.”

Como fazemos sempre, continuando a nossa série de opiniões, o Blog o mundo como ele é tem o imenso prazer de trazer mais um de nossos colaboradores como entrevistado(a). Desta feita, o colóquio foi com a professora Terezinha da Silva Almeida.

A nossa entrevistada com seu modo simples e discrição vem se tornando referência para os que procuram afrescos literários, recentes, suaves, sobrepostos ao nosso dia a dia e de extrema lucidez. Nesses anos, vem otimizando suas obras literárias a ponto de estar mais que justificada a frase inicial desse prefácio.

Natural de Piancó-PB, mas há muito já adotada por todos nós pombalenses, a entrevistada tem formação acadêmica na área de Licenciatura Plena em Letras – Portugués/Inglês, com especialização em Literatura pela Universidade Federal da Paraíba e em Metodología do Ensino Superior – FAFIC.

Com reconhecido destaque na área da educação, foi profesora do ensino fundamental, médio e superior nas Faculdades de Agronomia e de Ciências Contabéis de Pombal).

Escritora e poetisa, é autora de Páginas da Vida; Brasil 500 Anos, Raio X da Nossa História; Relicário; Poemas Diversos; e Um Anjo Entre Nós (contos).

Com ativa participação na comunidade, a professora também já enveredou pela trilha da política, lançando-se candidata a vereadora no último pleito.

Sem maiores delongas, a professora Terezinha Almeida, concedeu-nos a entrevista que temos a satisfação de apresentar a todos vocês:


1 - Blog – Língua Portuguesa, ao lado de Matemática, Física e Química são as disciplinas que mais assustam o aluno. Por que há essa dificuldade?

Profª Terezinha – A dificuldade decorre, em primeiro lugar, da complexidade dessas disciplinas. Junto a isso vem a deficiência da metodologia usada desde o ensino fundamental. Sem base, o aluno tem muita dificuldade de raciocinar, de entender e de memorizar, no caso de Química, por exemplo. A deficiência das primeiras séries prejudica a aprendizagem nas séries posteriores.

2 - Blog – Ao longo de sua carreira como professora de português, qual foi o seu maior desafio em lecionar a disciplina em um Estado onde o “ôxente” e o “viche” são palavras vivamente incorporadas ao nosso vocabulário popular ?

Profª. Terezinha – Termos usados na linguagem falada não constituem grande problema no ensino da Língua Portuguesa. O grande desafio é desenvolver no aluno a capacidade de redigir, dada a grande diferença entre língua falada e língua escrita. A fala é espontânea, a escrita é reflexiva. Expressar o pensamento através da língua escrita é muito difícil.

3 - Blog – Na sua opinião, qual o fator preponderante para explicar o motivo pelo qual a nossa juventude ler tão pouco? Como isso pode ser resolvido?

Profª. Terezinha – O hábito da leitura deve ser desenvolvido logo no ensino fundamental. Essa tarefa não deve ser negligenciada pelo professor. É uma tarefa que exige tempo, planejamento e pesquisa. Já lecionei no ensino fundamental e conheço bem o trabalho que o professor enfrenta, para desenvolver no aluno o hábito da leitura não só dos livros didáticos como também dos paradidáticos. Para resolver esse problema não existe regra prática, porque vai depender do próprio aluno. Cabe ao professor orientar o aluno e aplicar o método Aprender a fazer fazendo, isto é, o aluno tem que colaborar, realizando as tarefas propostas pelo professor e não descuidar de tentar ler o mais que puder fora da sala de aula. É pelo hábito que surge o interesse pela leitura.

4 - Blog – A internet vem introduzindo em nosso português uma linguagem cifrada, diminuta, abreviada, cheia de códigos onde o porquê é “pq” e você é “vc”. Isso é reflexo do empobrecimento lingüístico ou exemplo de que a nossa língua não é estática e que se está continuamente se renovando?

Profª. Terezinha – Isso provém do interesse de determinado grupo criar seu próprio código de comunicação, como sempre acontece, até mesmo entre os jovens. O ato da comunicação realiza-se através de diferentes códigos de linguagem. Na internet não poderia ser diferente. Acredito que isso é reflexo do hábito de sintetizar o que se expressa, na tentativa de ganhar tempo, ocupando o menor espaço possível, já que a língua é dinâmica a ponto de aceitar extravagâncias, sem prejudicar a comunicação.

5 - Blog – O que a seduz na Língua Portuguesa?

Profª. Terezinha – A Língua Portuguesa me seduz pela complexidade de sua estrutura morfossintática e a dinamicidade do seu léxico.

6 - Blog – Na sua visão, quais as grandes diferenças entre a nossa língua e a de outros países?

Profª. Terezinha – As diferenças são mais evidentes no vocabulário entre a nossa língua e as línguas que não se originaram do Latim. As línguas neolatinas apresentam muita semelhança entre si. Veja o espanhol, o italiano, por exemplo. Quanto à sua estrutura, percebemos diferença até entre o nosso português e o português luso, que apresenta acentuação gráfica, nalguns casos, diferente da acentuação da nossa língua.

7 - Blog – Há quem defenda que o ato de ler muito não faz a pessoa escrever melhor. O que a senhora acha dessa assertiva?

Profª Terezinha – A leitura feita com proveito ajuda muito não só a capacidade de redigir como também a ampliação do nosso conhecimento. Quem lê com freqüência tem mais facilidade de escrever, portanto não concordo com essa assertiva. Não se escreve sobre o que não se conhece, e a leitura é uma fonte de conhecimento.

8 – Blog – Se a senhora só pudesse adquirir três livros e nenhum outro mais. Que obras literárias escolheria?

Profª. Terezinha – Por gostar do estilo destes escritores e ainda não conhecer estes livros, eu escolheria AS INTERMITÊNCIAS DA MORTE, de José Saramago; MEMÓRIA DE MINHAS PUTAS TRISTES, de Gabriel García Márquez; e ASSASSINATOS NA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, de Jô Soares.

9 – Blog – A linguagem usada no século passado por bandos como o de Lampião influenciou a própria expressão sertaneja. E hoje, que influência deixaremos para as novas gerações?

Profª. Terezinha – As influências lingüísticas passadas de uma geração a outras decorrem dos próprios costumes de cada geração. Um exemplo disso são as frases feitas. Com certeza, vamos deixar muitas influências e em diferentes campos, pois os termos regionais sempre estão surgindo no nível popular da nossa Língua. Muitos surgem da gíria usada por jovens, por malandros, entre outros grupos.

10 – Blog – É comum se utilizar palavra inglesa para definir um simples cachorro-quente, por exemplo. Essa invasão de linguagem não deveria ser combatida?

Profª. Terezinha – O uso de palavras ou expressões estrangeiras introduzidas no nosso idioma, parece, de início, uma invasão prejudicial, mas termina por enriquecer o nosso léxico, porque naturalmente surge a forma aportuguesada. Acredito que se deve combater o emprego de palavras estrangeiras que têm uma correspondente em português, de uso freqüente, como o exemplo dado na questão.

11 - Blog – Deixo aqui uma pergunta de um internauta de Santa Catarina: Professora, qual o correto: “Um dos médicos que fizeram” ou “fez”?

Profª Terezinha – Na questão expressa, a forma no plural é a mais usada, porque a concordância é feita com o nome que está no plural (médicos). Quando, porém, se deseja destacar o indivíduo do grupo, usa-se a forma singular: Um dos médicos que fizeram inclui o grupo todo. Um dos médicos que fez destaca apenas um: o único que fez no grupo.

12 – Blog – Que crítica a senhora faria a esse modelo filosófico de educação ora implantada no ensino médio do nosso país?

Profª Terezinha – Se a referência é feita quanto ao modelo estabelecido pela LDB, tudo não passa de teoria (refiro-me ao meu Estado). Conforme determina o Art.36, § 1º, inciso III, o conhecimento que o aluno tem que adquirir depende da implantação de outras disciplinas na grade curricular, e até agora nada foi feito. O PCN do ensino médio visa as estratégias de aprendizagem nos domínios da ação humana na sociedade, na atividade produtiva e na experiência subjetiva, numa proposta curricular baseada em aprender a conhecer, a fazer, a viver e a ser. Entretanto, falta capacitação necessária ao educador. Os cursos de capacitação que aparecem não atendem às necessidades mais urgentes para a aplicação desse modelo educacional.

13 – Blog - O modo de ensinar Língua Portuguesa hoje difere de como a estudávamos dez ou vinte anos atrás. O que a senhora acha dos novos métodos de ensinar a matéria através principalmente da contextualização e leituras críticas do texto para só a partir daí aprendermos gramática de acordo com o que nos diz Paulo Freire?

Profª Terezinha – O ensino de gramática através do texto torna as aulas menos abstratas, leva o aluno a entender como aplicar as regras gramaticais no texto, além de desenvolver o processo de análise da leitura de forma crítica. A contextualização favorece melhor aquisição na aprendizagem, porque facilita a compreensão do assunto em estudo. Sem contextualização fica mais difícil de desenvolver o senso crítico do aluno.

14 – Blog - Além de professora a senhora se destaca por refinadas publicações poéticas. Quando teremos uma nova publicação sua?

Profª Terezinha – Refinado não seria o termo exato para minha criação poética, já que uso vocabulário de uso comum e estilo simples. As mensagens dos poemas que escrevo são de fácil compreensão. Estou com dois livros de poesia (Relicário e Poemas Diversos) já editados. Tenciono fazer o lançamento deles depois do período eleitoral.

15 – Blog – Que livro atualmente a senhora está lendo?

Profª Terezinha – Ulisses, de James Joyce.

16 – Blog – Agradecemos pela disponibilidade da entrevista.

Profª Terezinha – Eu é que devo agradecer pela oportunidade que me é concedida. Espero tê-los atendido nas respostas dadas.

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