sexta-feira, 30 de abril de 2010

Clarice Lispector

Já escondi um AMOR com medo de perdê-lo, já perdi um AMOR por escondê-lo.
Já segurei nas mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos.
Já expulsei pessoas que amava de minha vida, já me arrependi por isso.
Já passei noites chorando até pegar no sono, já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.
Já acreditei em amores perfeitos, já descobri que eles não existem.
Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que me amaram.
Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou, já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir.
Já menti e me arrependi depois, já falei a verdade e também me arrependi.
Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta em meu canto.
Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir.
Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam.
Já tive crises de riso quando não podia.
Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva.
Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse.
Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar.
Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros.
Já fingi ser o que não sou para agradar uns, já fingi ser o que não sou para desagradar outros.
Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz.
Já inventei histórias com final feliz para dar esperança a quem precisava.
Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade... Já tive medo do escuro, hoje no escuro "me acho, me agacho, fico ali".
Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais.
Já liguei para quem não queria apenas para não ligar para quem realmente queria.
Já corri atrás de um carro, por ele levar embora, quem eu amava.
Já chamei pela mamãe no meio da noite fugindo de um pesadelo. Mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda.
Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram... Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim.
Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.
Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!
Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente!
Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão.
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra SEMPRE!
Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes.
Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um penhasco q eu vou dizer:
- E daí? EU ADORO VOAR!

quinta-feira, 29 de abril de 2010

A bela Paula Fernandes, Quero sim.

Pensamento PiXação

Para questionar a estética da fachada

A revolta geral da sociedade contemporânea contra a pichação se ampara na hipótese de seu caráter violento. Usarei a expressão pixação, com X, para tentar tocar no X da questão. A estética da brancura ou do liso dos muros, hegemônica em uma sociedade que preserva o ideal da limpeza estética, dificulta outras leituras do fenômeno da pixação. O excessivo amor pela lisura dos muros, a sacralização que faz da pixação demônio, revela enquanto esconde uma estética da fachada.

Toda estética inclui uma ética, assim a da fachada. Fachada é aquilo que mostra uma habitação por fora; pode tanto dar seqüência ao que há na interioridade, quanto ser dela desconexo. É da fachada que se baste por si mesma à medida que lhe é próprio ser suficiente aos olhos. A estética da fachada que defende o muro branco é a mesma que sustenta a plastificação dos rostos, a ostentação dos luxos no “aparecimento geral” da cultura espetacular, no histérico “dar-se a ver” que produz efeitos catastróficos em uma sociedade inconsciente de seus próprios processos.

Nesta São Paulo do começo de século 21 não é permitido cobrir “fachadas” com propagandas e outdoors. A proibição, ainda que democrática, produz um novo efeito de observação da cidade. Tornou-se visível o que se ocultava por trás do “embelezamento” capcioso sobre um outro cenário. A obrigação do padrão do liso é efeito da democracia que, no entanto, flerta com sua manutenção autoritária. É o desejo governamental da neutralidade e da objetividade no espaço público o que deve servir de cenário à vida na cidade. Governar é no Brasil a habilidade de comandar a fachada que na administração paulistana sai do símbolo para entrar na prática mais imediata do cotidiano. A vontade de fachada é, afinal, uma vontade de poder compartilhada por toda a cultura em todos os seus níveis.

A pixação é o contrário do outdoor, ainda que compartilhe com ele a proibição de aparecer no cenário urbano comprometido pelo governo com uma neutralidade que serve à mesma ocultação de carroceiros e outros excluídos. Ampara-se no olhar burguês cego para mendigos e crianças abandonadas nas ruas. Enquanto o outdoor pode se sustentar no pagamento das taxas que o permitem, a pixação não alcança nenhuma autorização, ela está fora das relações de produção. O que o outdoor escondia era muitas vezes a própria pixação, enquanto a pixação não esconde nada, ela é o que se mostra quando ninguém quer ver sendo meramente compreendida como “ofensa” ao muro branco. Anti-capitalista, a pixação não se insere em nenhuma lógica produtiva, ela é irrupção de algo que não pode ser dito. Sem pagar taxas, o pichador exercerá uma espécie de lógica da denúncia. Mas quem poderá perceber?

Não é possível negar o direito ao muro branco ou liso em uma sociedade democrática, na qual está sempre em jogo a convivência das diferenças. O direito ao muro branco é efeito da democracia. Mas a questão é bem mais séria do que a sustentação de uma aparência ou de um padrão do gosto. A pixação é também um efeito da democracia, mas apenas no momento à ela inerente em que ela nega a si mesma. Ela é efeito do mutismo nascido no cerne da democracia e por ela negado ao fingir a inexistência de combates intestinos e velados. A pixação é, neste sentido, a assinatura compulsiva de um direito à cidade. Um abaixo-assinado, às vezes surdo, às vezes cego, pleno de erros, analfabeto, precário em sua retórica, mas que, em sua forma e conteúdo, sinaliza um retrato em negativo da verdade quanto ao espaço – e nosso modo de percebê-lo – nas sociedades urbanas. Espaço atravessado, estraçalhado, pela exclusão social.

A pixação é uma gramática que requer a compreensão da brancura dos muros. O gesto de escrever só pode ser compreendido tendo em vista que todo signo, letra, palavra, investe-se contra ou a favor de um branco pressuposto no papel. O grau zero da literatura é esta luta com o branco. A escrita é combate contra o branco, negação do alvor fanático, como o pensamento é sempre oposição e negação do que se dispõe como evidente, convencional, pressuposto. Por outro lado, a escrita é abertura e dissecação do branco, lapidação do branco pelo esforço da pedra, mas nunca sua confirmação, nunca é a ação da borracha, do apagamento, da camada de tinta que alisará o passado, o que desagrada ver. Sua lógica é a do inconformismo infinito. Imagine-se uma sociedade em que o papel não fosse feito para a escrita, em que as superfícies brancas de celulose não sustentassem idéias, comunicação, expressão, afetos, anseios, angústias. Imagine-se uma sociedade em branco e começar-se-á a entender porque a pixação nas grandes cidades é bem mais do que um ato vândalo que, para além de ser uma forma de violência, define a cidade como um grande livro escrito em linguagem cifrada. O pichador é o mais ousado escritor de todos os tempos. Diante do pichador todo escritor é ingênuo. Diante da pixação a literatura é lixo.

A Cidade como Mídia

Uma leitura da pixação que veja nela a mera ofensa ao branco perderá de vista a negação filosófica do branco que é exercida pela pixação. A pixação eleva o muro a campo de experiência, faz dele algo mais do que parede separadora de territórios. Mais que propriedade invadida é a própria questão da propriedade quanto ao que se vê que é posta em xeque.

A pixação é o grito impresso nos muros. Ação afetivo-reflexiva em uma sociedade violenta que não aceita a violência que advém de um estado de violência. Ela é a marca anti-espetacular, o furo no padrão da falsidade estética que estrutura a cidade. É a irrupção do insuportável à leitura e que exige leitura para a qual a tão assustada quanto autoritária sociedade civil é analfabeta. E politicamente analfabeta.

Em vez do gesto auto-contente, o que a pixação revela é a irrupção de uma lírica anormal. A Internet com seus blogs (horrendos, bonitos, mais bem feitos ou mais mau-humorados) é o seu análogo perfeito. A pixação revela o desejo da publicação que manifesta a cidade como uma grande mídia em que a edição se dá como transgressão e reedição onde o pichador é o único a buscar, para além das meras possibilidades de informar ou comunicar, a verdade atual da poesia, aquela que revela a destruição da beleza, o espasmo, a irregularidade, a afronta, que não foi promovida pela pixação, mas que ela dá a ver. Em sua existência convulsa a pixação é a única lírica que nos resta.
Marcia Tiburi

Seios de Minas

Versículos do Dia

Pela opressão dos pobres, pelo gemido dos necessitados me levantarei agora, diz o SENHOR; porei a salvo aquele para quem eles assopram. (Salmos 12:5)

E da mesma maneira também o Espírito ajuda as nossas fraquezas; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis. (Romanos 8:26)

Separação de bens

Você fica com a razão.

Eu fico com os dias ensandecidos
com o vento nos seus cabelos
com o canto final do sol
no dourado da sua pele.

Você fica com a verdade.

Eu fico com os raios da lua
com os sussurros sem nexo
os beijos loucos, dementes
com a obsessão dos corpos.

Você fica com o direito.

Eu fico com as horas de gozo
com o ruído das folhas das árvores
com seus dedos tecendo anseios
na brancura do meu corpo

Você fica com o que é certo.

Eu fico com a incerteza
com a beleza do instante sem continuidade
com o momento perdido entre as horas
com a eternidade perdida no momento.

Você fica, meu amor.

Eu sigo.


Dalva Agne Lynch

De volta ao passado: Renato e seus blue caps

Recife recolhe livro de educação sexual para crianças


O livro didático Mamãe, como eu nasci? ainda estava sendo distribuído entre alunos do terceiro ano do ensino fundamental da rede pública do Recife e já começou a ser recolhido, nesta semana, por iniciativa da Secretaria Municipal de Educação, diante da polêmica que provocou. De autoria de Marcos Ribeiro, premiado pela Academia Brasileira de Letras e referência nacional em educação sexual, o livro chegou a ser considerado “pornográfico” pelo vereador André Ferreira (PMDB), representante da bancada evangélica na Câmara.

Pais de alunos se mostraram revoltados com a publicação, que fala de forma clara sobre sexo e traz, entre as ilustrações, um menino e uma menina se masturbando – ele em uma banheira e ela defronte da televisão. Com o apoio de vereadores de vários partidos, a Câmara de Vereadores realizará uma audiência pública no dia 12 de maio para debater o assunto. “O livro usa cenas e palavras pesadas, chega a ser constrangedor ler o que está lá”, afirmou Ferreira, que o considera inadequado para crianças. Para ele, cabe aos pais a educação sexual dos filhos. “Quem é a escola para escolher o tempo certo para abordar o assunto?”

A diretora geral de ensino da Secretaria Municipal de Educação, Luiza Vasconcelos, afirmou que o recolhimento do livro é provisório, para discussão com as escolas e pais que tiveram dificuldade com a publicação. Ela defende o título, escrito há 18 anos e usado em várias escolas de Estados e Municípios brasileiros, como instrumento de proteção e prevenção.

“A partir do conhecimento do seu corpo, a criança pode se proteger”, afirmou, ao destacar que muitos alunos e professores não aceitaram devolvê-lo, o que é respeitado pela Secretaria. Segundo ela, 550 exemplares do livro – dentro de um kit de títulos didáticos – estavam sendo distribuídos com as turmas do primeiro ano do segundo ciclo, que têm idade entre oito a dez anos.



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Erro de português

Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português.


Oswald de Andrade

Patente do Viagra termina em junho, decide STJ



O fim da patente do Viagra fará com que o tratamento contra disfunção erétil fique mais barato

Por cinco votos a um, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) concluiu nesta quarta-feira (28) que a patente do Viagra (sildenafil) termina em junho deste ano. O remédio, que virou sinônimo de tratamento contra disfunção erétil, hoje constitui o segundo produto dessa categoria mais vendido no Brasil, perdendo apenas para o Cialis (tadalafil). Com a decisão, o princípio ativo poderá ser produzido como genérico por outros laboratórios, o que fará com que o tratamento fique mais barato.

O julgamento havia sido interrompido em março devido a um pedido de vista do ministro Luis Felipe Salomão. O placar, na ocasião, era de três votos favoráveis e nenhum contrário ao fim da patente.

O caso estava na Justiça porque a Pfizer, o laboratório fabricante, alegava que o prazo de vigência devia ser prorrogado até 7 de junho de 2011. Mas os ministros decidiram acatar a decisão do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi), que defendia a quebra da patente este ano.

O primeiro depósito do Viagra ocorreu em 1990, no Reino Unido, mas houve uma desistência em prol de um pedido posterior. Os ministros que votaram favoravelmente alegam que o primeiro depósito no exterior é o que vale, não o segundo. A patente protege a comercialização exclusiva de uma invenção pelo prazo de 20 anos.

Após o resultado, a Pfizer enviou comunicado para esclarecer que "respeitosamente discorda da decisão do Tribunal", mas que só irá se manifestar após tomar conhecimento do inteiro teor da decisão.

"A companhia defende o prazo da validade da patente como forma de garantir o retorno do investimento realizado para o desenvolvimento do produto em questão e de outros em estudo, que culminam em novos medicamentos no futuro. Essa garantia de retorno ao investimento feito na pesquisa e desenvolvimento de novos medicamentos é o que possibilita a inovação contínua", informa o texto. A empresa ainda pode recorrer da decisão, segundo o STJ.

Segundo dados apresentados pelo Inpi no julgamento, o genérico reduz o preço dos medicamentos de 35% a 50%. Atualmente, uma cartela com dois comprimidos de 50 mg de Viagra tem o Preço Máximo ao Consumidor (PMC, teto permitido pelo governo) de R$ 66,76. Já a cartela de dois comprimidos de 20 mg do Cialis tem o PMC de R$ 80,08.

Vale destacar que, na prática, o preço dos remédios depende da política de descontos dos fabricantes e das redes de farmácias.

Em drogarias de São Paulo consultadas pelo UOL Ciência e Saúde, os dois comprimidos de Viagra eram vendidos por aproximadamente R$ 52 e os do Cialis, por R$ 55.

Pioneiro
Há 12 anos no mercado, o Viagra é o primeiro medicamento aprovado para o tratamento da disfunção erétil. Seu mecanismo é o bloqueio da enzima fosfodiesterase do tipo 5 (PDE5), envolvida no processo de ereção.

Estima-se que a disfunção erétil afete entre 48% e 52% dos homens de 40 a 70 anos. Cada vez mais, porém, medicamentos como o Viagra têm sido utilizados por jovens, com ou sem acompanhamento médico.

Depois do sucesso estrondoso do remédio, outros concorrentes surgiram no mercado, como o Cialis, do laboratório Eli Lilly. Com a promessa de um efeito mais duradouro, o remédio ultrapassou o Viagra no mercado brasileiro em 2007, segundo dados da IMS Health, consultoria internacional em marketing farmacêutico. No ano passado, continuava na liderança. As drogas contra disfunção erétil movimentaram mais de R$ 500 milhões em 2009.

No ranking geral medicamentos (de todas as categorias, não apenas disfunção erétil) que geraram maior faturamento em 2009, segundo a IMS Health, o Cialis está em segundo lugar e o Viagra, em sexto.

Contraindicações
Para o médico Leonardo Eiras Messina, da diretoria da Sociedade Brasileira de Urologia de São Paulo, a esperada queda no preço do tratamento vai torná-lo mais acessível. Mas ele alerta: "o acompanhamento médico é primordial antes de usar esses remédios".

A principal contraindicação da droga é para cardíacos que fazem uso de nitratos. Nesses pacientes, as reações podem ser graves e levar à morte. De um modo geral, os usuários podem ter dores de cabeça e rubor facial, entre outros efeitos colaterais.


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(Acesse o Uol)

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Sucesso ou fracasso? A escolha é sua!

Pra descontrair

Com chulé.

Você sabe por que o português só tem chulé no pé esquerdo?
- Porque desde garoto ouvia sua mãe dizer: "Vê se lava esse pé direito, menino!!!"

Entre Aspas

“Não pode haver felicidade quando as coisas nas quais acreditamos são diferentes das que fazemos”

Freya Stark

Tocando em frente - Paula Fernandes e Don e Juan

Amor & Sexo, Qual o limite da intimidade?

Existe uma linha fina entre o sentir-se à vontade com o parceiro e expor hábitos pessoas que acabam comprometendo o relacionamento

Quando convivemos muito com alguém, seja morando junto ou passando boa parte do nosso tempo ao lado dessa pessoa, ficamos diante da chamada intimidade do casal. De repente, hábitos tão particulares, que não éramos capazes de fazer sequer na frente de nossos pais, realizamos sem pudores junto ao parceiro.

Aí começa o problema: é preciso cuidado para não misturar intimidade com desleixo. Certos costumes devem ser mantidos só para você.

Nada de banheiro coletivo!

Mesmo que ele venha com a conversa de que "ah, você não se sente confortável comigo, nem vai ao banheiro na minha frente", resista! Explique que necessidades fisiológicas são íntimas demais para ser compartilhado com quem quer que seja. A posição, os odores, os sons... Não dá para permitir que seu gatinho a veja nessa situação.

Não é só a TPM que incomoda...

Se nós, que lidamos com isso mensalmente, não gostamos de encontrar absorventes ou mesmo papel higiênico manchados no lixo da banheiro, imagine eles! Não custa nada esconder as evidências, não é?

Imagem desnecessária

Existe cena mais deprimente do que uma mulher agachada, com a cabeça praticamente dentro do vaso sanitário, vomitando? Então não importa o quão mal você esteja se sentindo, peça para ele manter distância!

Pode ou não pode?

Certos hábitos tanto encantam quanto incomodam os homens. Alguns odeiam ver a parceira escovando os dentes, outros relacionam a prática à "vida de casado" e gostam da brincadeira. Se andar nua pela casa excita os mais fogosos, irrita os ciumentos, preocupados que alguém possa ver sua mulher assim. Depilar-se também pode ser tanto sinônimo de sedução quanto de asco. Na verdade, tudo depende da intenção e do momento. Por isso, observe sempre.

Invasão de privacidade

Ciúmes e desconfiança, quando superam o bom-senso, devem ser discutidos. Descobrir a senha do e-mail, vistoriar a carteira e fuçar no celular do amado para saber o que está acontecendo na vida dele ou descobrir alguma mentirinha é o fim da picada. Controle-se!

Segredos de beleza bem escondidos

Ele acha que você já acorda com uma pele de pêssego e cachos deslumbrantes? Não o decepcione! Máscaras de beleza, bobs nos cabelos, clareamento dos pêlos, manicure, tintura dos fios, eliminação de cravos e espinhas... Mantenha esses hábitos um mistério para o moço. Permita apenas que ele se encante com o resultado!

Lugar de calcinha molhada é no varal

Tudo bem lavar as peças íntimas durante o banho, mas nada de deixá-las penduradas no registro ou no box. Parece besteira, mas os homens têm a calcinha como fetiche, objeto de desejo. A peça molhada no banheiro desmistifica sua sensualidade. Enfim, melhor prevenir do que remediar...

Ops!

Se não acontece em nenhum outro lugar, a velha desculpa de "ai, escapou" não cola. Pum e arroto são atestados de má educação e enojam qualquer um. É melhor sair correndo para o banheiro do que ter de ouvir do seu amor: "Foi você?"


Por Paula Aftimus
Viva Mais on line

Vinícius de Morais

Josué de Castro: Ainda um ilustre desconhecido

A publicação pelo alto comando militar do Ato Institucional número 1, em abril de 1964, trouxe em sua lista os nomes cassados de vários políticos e personalidades ligadas ao governo deposto de João Goulart, encontrando-se entre este o médico, geógrafo e sociólogo brasileiro, cidadão do mundo, Josué Apolônio de Castro, autor de grandes clássicos como Geografia da Fome (1946) e Geopolítica da Fome (1951), considerados importantes contribuições para as causas humanas, publicados pós-segunda guerra mundial.

Josué de Castro escolheu a França para o exílio, voltando a ministrar aulas em grandes instituições de ensino superior, como a Sorbonne e Vincennes. Instalado na capital francesa, intensificou a luta humanista que marcou toda a vida do grande cientista nacional.

No Brasil, a ditadura militar considerou Josué de Castro persona non grata, recolhendo seus livros das bibliotecas e das universidades nacionais. Quem fosse pego lendo Geografia da Fome, ou outro clássico escrito pelo homem que lutou contra a desnutrição e em prol da paz, estava passível de ser enquadrado na lei de segurança nacional, pois sua produção tornou-se tema proibido.

Escancarar as estruturas de dominação forjadas pelo homem contra o próprio homem foi considerado o grande pecado de Josué de Castro, pois sua ousadia ao denunciar as injustiças sociais garantiu-lhe a ira de inimigos poderosos, pessoas beneficiadas pelo modelo que ainda tem sua vigência nos dias atuais, principalmente quando, com a urbanização anômala e acelerada, recrudesceu o problema da fome e da miséria.

Constatar que Josué de Castro e sua vasta produção ainda são desconhecidos soa como algo misterioso e inadmissível em pleno século XXI, tendo em vista a importância e a atualidade do pensamento deste teórico nacional para a compreensão e elucidação dos graves transtornos sociais que se agigantam cotidianamente, pois a confirmação de profecias feitas há mais de quarenta anos são reconhecidas no presente.

Por esta razão justifica-se a busca para alcançar objetivos definidos em projeto de extensão apresentado ao Departamento de Geografia do Campus Central da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, denominado Discutindo a importância e a atualidade o pensamento de Josué de Castro em Escolas Públicas Municipais e Estaduais de Mossoró/RN.

Intuindo assinalar a participação da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte nas comemorações do centenário de nascimento de Josué de Castro, ocorrido no ano de 2008, buscamos assistir a um público-alvo bastante parecido no que tange às origens do injustiçado cientista brasileiro.

Quando da aplicação desse projeto de extensão, observamos imediata identificação dos alunos com a vida, com as idéias e com a permanência de suas defesas. Nascido em zona miserável da capital pernambucana, no dia cinco de setembro de 1908, Josué de Castro nunca esqueceu suas origens, pois mesmo quando desempenhava a mais alta e importante função, quando de suas gestões no Fundo das nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, criada sob os auspícios do seu particular amigo Lord J. Boyd Orr, sempre voltava aos mangues recifenses para ouvir seus personagens de infância, os catadores de caranguejos, saber como vivam, o que pensavam e o que sofriam devido a intensidade das mazelas sociais que nos dias de hoje são mais intensas e profusamente presentes em nossa sociedade.

Josué de Castro teve a iniciativa de pintar o quadro social com cores berrantes, não poupando o dramático e tétrico problema da fome em sua real dimensão, tendo alertado as autoridades mundiais para o colapso geral caso não abrissem mãos das vantagens impressionantes desfrutadas por uma pequeníssima minoria privilegiada e agraciada com todos os benefícios da exclusão da grande maioria, pois afirmou que um terço da população mundial não dormia temendo os outros dois terços que passavam fome.

A defesa intransigente da paz se constituiu em um dos pilares das propostas de solução para o problema da fome no planeta. Josué de Castro defendeu com entusiasmo que a segurança social, compreendida pelo investimento em saúde, educação, cultura, nutrição, etc., é muito e infinitamente mais importante que a segurança nacional baseada em armas, não se justificando o destino astronômico de recursos para a modernização do setor armamentista, o qual tem uma única finalidade, quer seja, fomentar a morte e a destruição.

Com certeza, encontramos uma importante explicação para o ódio devotado pela ditadura militar contra Josué de Castro nesta máxima em prol da vida, da harmonia e da solidariedade entre os povos.

A indicação de Josué de Castro duas vezes para o Nobel da Paz encontra-se na intransigência com que defendeu a idéia de que a felicidade humana, traduzida na segurança social, é mais importante do que a ênfase aos disparos de canhões e metralhadoras que levam a desgraça aos quatro cantos do planeta.

Levar o exemplo de Josué de Castro para estudantes do ensino fundamental de escolas públicas municipais e estaduais, seja de Mossoró ou de qualquer outro município potiguar ou brasileiro, constitui-se, indubitavelmente, em importante fundamento que alicerça a formação de novas consciências, tendo em vista que ao superar a pobreza crônica, apostando na educação e na cultura, fez de Josué de Castro modelo a ser seguido a fim de buscar novos horizontes em uma sociedade estruturada de forma rígida e inflexível no que diz respeito à manutenção dos privilégios que a cada dia que passa se tornam mais intensos e desrespeitosos para os que sofrem com condições sociais aviltantes impostas pelos homens contra os próprios homens.


José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor-adjunto do Departamento de Geografia da UERN. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Charlie Chaplin ao som de Michael Jackson

Poemeto


É desimportante que, de repente, eu tenha crescido.
Continuo supondo ser a mesma criança
[ que um dia nasci.



Teófilo Júnior

Sorri - Djavan

Mulheres árabes pagam até R$ 4,6 mil para restaurar virgindade

Jovens mulheres de países ou de origem árabe estão pagando cerca de 2 mil euros (aproximadamente R$ 4,6 mil) por uma cirurgia realizada na França para restaurar a virgindade, um procedimento que, em alguns casos, pode salvar suas vidas.

A clínica que faz a cirurgia de restauração do hímen fica em Paris e é liderada pelo médico Marc Abecassis. De acordo com ele, são feitas entre duas ou três cirurgias por semana, que duram em média 30 minutos e requerem apenas anestesia local.

Abecassis afirma que a média de idade de suas pacientes é de 25 anos e que elas são de todas as classes sociais.

Apesar de a cirurgia já ser feita em muitas clínicas em todo o mundo, Abecassis é um dos poucos médicos árabes que fala abertamente sobre o procedimento. Ele afirma que algumas das mulheres que o procuram precisam do certificado de virgindade para conseguir se casar.

"Ela pode estar em perigo, pois, em alguns casos, é uma questão de tradições e família", disse o médico. "Acredito que nós, como médicos, não temos direito de decidir por elas ou julgá-las."

Para estas mulheres existe também uma opção sem cirurgia. Um site de uma fábrica chinesa vende hímens artificiais por 23 euros (cerca de R$ 54). O hímen chinês é feito de elástico, contém sangue artificial e é colocado dentro da vagina para a mulher simular virgindade, de acordo com a companhia.

Suicídio
Em partes da Ásia e no mundo árabe mulheres que mantiveram relações sexuais correm o risco de ficar isoladas em suas comunidades ou até mesmo mortas.

A pressão social é tão grande que algumas mulheres chegaram a cometer suicídio.
Um dos exemplos da pressão social enfrentada pela mulheres é o de Sonia, que estuda artes em uma universidade de Paris.

Apesar de ter nascido na França, a cultura e as tradições árabes estão no centro da vida de Sonia e a vigilância da família é severa. Mas ela perdeu a virgindade fora do casamento.

"Pensei em suicídio depois da minha primeira relação sexual, pois não conseguia ver nenhuma outra solução", disse.

No entanto, a jovem foi a Paris, na clínica de Marc Abecassis, para fazer a cirurgia de restauração do hímen. E afirma que nunca vai revelar o segredo para ninguém, especialmente para seu futuro marido.

"Acho que é minha vida sexual e não tenho que falar para ninguém a respeito", afirma e acrescenta que são os homens que a obrigam a fazer isso.

Nara (nome falso), de 40 anos, chegou a tentar o suicídio quando jovem. Ela teve um longo relacionamento com outro jovem, quando morava na zona rural do Líbano, um relacionamento que a família dela não aprovava, e perdeu a virgindade.

"Eu estava apavorada, com medo que eles me matassem", disse.
Depois de sete anos de relacionamento, a família de seu namorado quis que ele se casasse com outra. Nara tentou o suicídio tomando remédios e produtos químicos.

Nara agora está com 40 anos e soube da cirurgia de restauração do hímen há seis anos. Ela se casou e teve dois filhos, mas passou a noite de núpcias chorando.

"Eu tive muito medo, mas ele não suspeitou", afirmou. "Vou esconder até a morte, apenas Deus vai saber disso", acrescentou.

Controle
Não são apenas as gerações mais antigas que mantêm o tabu a respeito do sexo antes do casamento.

Noor é um jovem profissional que trabalha em Damasco, na Síria, e pode ser considerado um representante dos jovens sírios em uma sociedade secular. Mas, apesar de afirmar que acredita na igualdade para mulheres, Noor ainda expressa conservadorismo quando fala da escolha de uma esposa.

"Conheço garotas que passaram pela restauração que foram descobertas pelos maridos na noite do casamento", disse. "Eles perceberam que elas não eram virgens. Mesmo se a sociedade aceita este tipo de coisa, eu ainda me recusaria a casar com ela."

Clérigos muçulmanos afirmam que a questão da virgindade não está relacionada à religião.

"Devemos lembrar que, quando as pessoas esperam que o sangue da virgem seja derramado no lençol, é uma questão de tradições culturais. Não está relacionada à lei da Shariah", fairmou o clérigo sírio Sheikh Mohama Habash.

Comunidades cristãs no Oriente Médio também são, com frequência, tão firmes quanto as comunidades muçulmanas em relação à exigência de virgindade da mulher antes do casamento.

Para a escritora e comentarista social árabe Sana Al Khayat, a questão está relacionada ao "controle".

"Se ela é virgem, ela não tem como comparar (o marido com outros homens). Se ela esteve com outros homens, então ela tem experiência. Ter experiência torna as mulheres mais fortes", afirmou.



Fonte:
Najlaa Abou Mehri e Linda Stills
BBC BRASIL/Uol

Livro que ataca Freud e compara psicanálise a homeopatia causa polêmica na França

Um novo livro que acusa o pai da psicanálise, Sigmund Freud, de ser mentiroso, fracassado e defensor de regimes totalitários está criando polêmica na França.

De acordo com o filósofo francês Michel Onfray, autor de "Le Crépuscule d'une idole, l'affabulation freudienne" (O Crepúsculo de um Ídolo, a Fábula Freudiana), a psicanálise é comparável a uma religião e sua capacidade de curar as pessoas é semelhante a da homeopatia.

O livro começou a ser vendido nesta semana nas livrarias francesas, mas já havia começado a gerar controvérsia antes mesmo de sua publicação. Psicanalistas acusam Onfray de cometer erros e ignorar fatos para defender a sua tese.

'Necessidades fisiológicas'
O conhecido filósofo, que escreveu Tratado de Ateologia (publicado também no Brasil), acredita que Freud transformou seus próprios "instintos e necessidades fisiológicas" em uma doutrina com pretensão de ser universal.

Mas, para Onfray, a psicanálise seria "uma disciplina verdadeira e justa no que diz respeito a Freud e ninguém mais".
Onfray diz que Freud fracassou na cura de pacientes que ele mesmo atendeu, mas ocultou ou alterou suas histórias clínicas para dar a impressão de que o tratamento havia sido bem sucedido.

Ele afirma, por exemplo, que Sergei Konstantinovitch, indicado por Freud como "o homem dos lobos", continuou fazendo psicanálise mais de meio século depois de ter sido supostamente curado por Freud.

E diz que Bertha Pappenheim, conhecida como "Anna O." e apresentada por Freud como um caso em que o tratamento contra histeria e alucinações funcionou, continuou tendo recaídas.

Durante um debate com a psicanalista francesa Julia Kristeva publicado esta semana no jornal francês Le Nouvel Observateur, Onfray rejeitou a noção de que o método de Freud "cura todas as vezes".

"A psicanálise cura tanto quanto a homeopatia, o magnetismo, a radiestesia, a massagem do arco do pé ou o exorcismo feito por um sacerdote, quanto nenhuma oração diante da Gruta de Lourdes (onde há relatos de que Nossa Senhora teria aparecido)", afirmou.

"Sabemos que o efeito do placebo constitui 30% da cura de um medicamento", acrescentou. "Por que a psicanálise escaparia desta lógica?"

Dinheiro, sexo e fascismo
Além de questionar o método de Freud, Onfrey criticou sua personalidade e o apresenta como alguém que foi capaz de cobrar o equivalente ao que seriam hoje US$ 600 por uma sessão, e incapaz de tratar dos pobres.

O filósofo francês diz que acredita que Freud tinha preconceito contra homossexuais e com um interesse especial em temas como abuso sexual, complexo de Édipo e incesto, e que dormia com a cunhada.

Em termos ideológicos, Onfray defende a tese de que Freud flertou com o fascismo e diz que em 1933, ele escreveu uma dedicatória elogiosa para Benito Mussolini: "Com as respeitosas saudações de um veterano que reconhece na pessoa do dirigente um herói da cultura."

Ele afirma que o criador da psicanálise procurou se alinhar com o chanceler Engelbert Dollfuss, que instaurou o "austrofascismo" no país, e também às exigências do regime nazista.

'Ódio'
O livro gerou uma onda de troca de acusações e protestos nos círculos intelectuais da França.
A historiadora e psicanalista Elisabeth Roudinesco afirmou em artigo em Le Nouvel Observateur que o novo texto de Onfray está "cheio de erros" e "rumores".

Roudinesco acusou Onfray de ter tirado as coisas do contexto e afirmou que Freud "de maneira alguma apoiou o fascismo e nunca fez apologia dos regimes autoritários".

"Quando sabemos que oito milhões de pessoas na França tratam-se com terapias derivadas da psicanálise, está claro que no livro e nas palavras do autor há uma vontade de causar danos", disse.

Em seu debate com Onfray, Kristeva defendeu a psicanálise como um mecanismo capaz de tratar de problemas como a histeria, o complexo de Édipo ou comportamento anoréxico ou bulímico, entre outros.

"Onfray nos insulta quando diz que a psicanálise não cura", escreveu o psiquiatra e psicanalista Serge Hefez no semanário Le Point. "O que fazemos todos nós em nossos consultórios, centros de terapia familiar, conjugal, nossos hospitais (...) senão ajudar o sujeito a se converter em ator de sua própria história?"

Hefez disse que "a psicanálise cura, é um tratamento útil e vivo praticado por milhares de terapeutas conscienciosos que conhecem fracassos, sucessos parciais e sucessos."

Onfray respondeu que várias reações contra seu livro evitam responder seus argumentos centrais e, em um artigo publicado no jornal francês Le Monde, perguntou se era impossível fazer uma leitura crítica de Freud.

"Com este livro, alguns amigos haviam me adiantado o ódio porque me metia com o bolso", escreveu. "Hoje eu me dou conta do quão certos estavam".



Fonte e créditos:
Gerardo Lissardy
De Paris (França)
BBC BRASIL

domingo, 25 de abril de 2010

Pra não ver você ir embora - Benito di Paula

De onde vem e para onde vai nosso desejo de saber?

De como a curiosidade nomeia nosso primitivo desejo de saber

Todos os seres humanos, dizia Aristóteles em sua Metafísica, possuem o desejo de saber. Leia-se: são movidos pela curiosidade. A curiosidade é um desejo primitivo de desvendamento das coisas. Sua metáfora é a da lanterna que rompe o escuro. Curioso é aquele que pode segurá-la.

A curiosidade pode ser elaborada com o tempo, orientada para direções diversas, mas em sua origem é como a fonte de onde jorra o desejo de saber. Ninguém sabe ao certo de onde ela vem, por que nasce aqui ou acolá, neste ou naquele terreno. Sabemos, porém, que se a curiosidade for proibida a uma pessoa, faltar-lhe-á alimento, ela não sobreviverá no mundo da cultura, pois não encontrará a ciência, nem a arte, nem a filosofia que ajudam cada um a descobrir seu desejo, aquilo que dá significado à sua existência pessoal, bem como sua pertença à condição humana.

A curiosidade é o impulso a conhecer sem o qual uma parte do ser de cada pessoa ficará amputado. É pela curiosidade que construímos nosso acesso às diversas camadas e territórios do mundo. É pela curiosidade que desenvolvemos a linguagem que é o primeiro e mais essencial aparato do saber. A curiosidade é a abertura da mente para o que existe, é a chave da porta para o mundo do conhecimento.

Todo conhecimento nasce de um desejo de saber sobre a natureza, o corpo, sobre o que existe e é, em algum momento, obscuro para nós. Querer saber sempre revela uma falta, a de que não sabemos. A ignorância é nosso estado natural, mas o desejo de saber é o que nos coloca dentro da cultura, mesmo que ele não seja mais do que um processo em busca do saber. Sábios são aqueles que, como Sócrates assumem o sei-que-nada-sei, ou seja, descobrem que o saber está na caminhada e não o objetivo, que sua construção é a busca e não um estágio final bem-aventurado onde toda dúvida se dissipa. As descobertas, seja na ciência, seja na vida, são sempre momentos, passos, num caminho infinito de buscas.

Nosso desejo de saber já estava manifesto nos mitos. Como todo desejo ele se constitui como falta de algo que anseia ser completada: todo desejo exige realização. Como tal ele faz sofrer em seu estado natural, enquanto permanece desejo, ou seja, algo irrealizado. Os sábios sempre se preocuparam em aplacar o sofrimento causado pelo desejo com explicações, como as que são dadas nas narrativas míticas.

A filosofia, contrariamente ao mito, passou a valorizar mais a pergunta que a resposta e, a partir daí, abriu o ser humano para a liberdade do pensamento, a liberdade que sua racionalidade podia oferecer como experiência de vida. Uma liberdade que exigia autoconsciência e responsabilidade pelo lugar que cada ser pensante tinha em relação ao todo.

De como desejar saber depende de um encontro com o outro, do qual sabemos nada ou muito pouco,
e de como nos tornamos iguais uns aos outros pelo desejo de saber

Curiosidade é abertura para o que não somos. Para o que está além de cada um. É a postura generosa por natureza. A etimologia da palavra remete ao latino curiositas, cuja raiz carrega a noção de cura, cuidado, diz respeito a um modo de viver e pensar que sempre envolve o outro. Mesmo quando alguém busca conhecer a si mesmo é apenas buscando algo pelo qual tem interesse que acaba por descobrir-se a si. A idéia de que é saindo de si que se chega a si mesmo envolve a hipótese de que ninguém se torna o que é sem passar pelo outro, sem chegar antes ao mundo, sem instaurar-se no universo da linguagem como gesto que se revalida a cada momento pela troca e reconhecimento do outro. O caminho para mim passa pelo outro, é por meio dele que descubro meu próprio eu.

A pessoa sem curiosidade está fechada em si, o outro não lhe importa, seja este outro uma pessoa, um tema, um objeto de estudos, um outro discurso, outra visão da vida. Alguém sem curiosidade, ao descuidar do outro, se aliena de si mesmo. Não é possível conhecer-a-si-mesmo sem voltar-se para o que está fora de si. O que mais importa neste processo é a qualidade da busca. No trajeto desta busca é que o ser humano se desenvolve como sujeito do conhecimento.

O conhecimento só tem sentido quando descobrimos o outro com o qual falamos, ao qual nos dirigimos e que se dirige a nós, cheio de perguntas. Nosso desejo de saber é o que nos iguala. Seria ilógico falar em conhecimento sem refletir sobre o espaço intersubjetivo, o intervalo que é espaço aberto e conexão que há entre Eu e Tu. Além da generosidade e da troca intelectual, a função política básica ao conhecimento está aí definida. É o encontro que define o conhecimento como emancipação. O conhecimento é o sentido e o meio pelo qual a humanidade se constrói. Todos queremos saber e só nos tornamos iguais se somos capazes de compartilhar o saber.

Sobre a expressão humana nos leva além da mera informação e de como ela estabelece a qualidade de nossos laços e de nossa comunicação

Seres humanos possuem a capacidade de pensar. Tais pensamentos dependem de sua expressão que se dá pela linguagem. Sem linguagem não há pensamento, pois precisamos das palavras para articular o que queremos dizer. As palavras são o corpo dos pensamentos. Elas são a manifestação do pensar que nos conecta uns aos outros. Querer dizer não basta, é preciso encontrar a forma certa de dizer. O “como” se diz algo é tão ou mais importante do que o “quê” se diz. O “como” é o espaço da relação. Neste lugar é que a reflexão nasce como fundadora de laços. Este é o campo especial do exercício da pergunta e da resposta. Toda reflexão depende, portanto, do potencial de expressão de um indivíduo no modo como ele se estabelece no contexto da coletividade. A expressão é a qualidade do coletivo. Sem ela não há consistência que alce o coletivo para além da massa.

Nos expressamos pela arte, pela ciência, pela religião. A expressão é a exposição das verdades que não dependem diretamente do nosso aprendizado da técnica. A técnica está nela submetida. Uma compreensão melhor do funcionamento de nosso desejo de expressão nos ajuda a seguir o caminho do conhecimento possível.

A expressão é tão importante quanto a informação quando falamos com alguém, assim como a formação é tão importante quanto a informação quando a questão é educar uma pessoa, fazer um amigo, respeitar quem não conhecemos.

Como nossa capacidade de expressão nos define como seres coletivos e como ela pode reconstruir a noção de humanidade

A evolução do conhecimento é a evolução da linguagem pela qual nos desenvolvemos como humanos. A idéia de humanidade está em crise, não sabemos mais o que é viver junto uns dos outros, pois não nos preocupamos com o sentido maior da relação que envolve a conversação entre nós. Quando deixamos de conversar eliminamos todos os nossos laços sejam públicos ou privados, na esfera das instituições ou na família.

Questionar o conhecimento hoje não é possível sem que pensemos num projeto de humanidade. O que é ser humano para a ciência, para a arte, para a filosofia? Mais do que projetos individuais de vida, precisamos de projetos coletivos que sustentem nossos projetos individuais e que estes sejam lançados como possibilidades de futuro para todos.

Como formar uma comunidade? Como alcançar um sentido maior para o coletivo? Por meio da elaboração da linguagem como diálogo. O diálogo é o caminho primeiro de todo o conhecimento. Uma criança sempre pergunta para alguém, ela não pensa sozinha antes de aprender a perguntar a outrem. Só aprendemos a ter idéias depois que conversamos com os outros. Como pensava Platão: “o pensamento é o diálogo da alma consigo mesma”. O que significa dizer que o pensamento é a reprodução interna de uma experiência externa. A produção da sociedade, sua evolução, depende do modo como estabelecemos nossos encontros em diversos níveis.

De como todo encontro, mesmo em nome do saber, é político, mas no bom sentido

Todo encontro é político porque a linguagem tem base política, ou seja, ela é enlace. A política é o contexto onde estabelecemos relações, não apenas o profissionalismo doentio dos que corrompem o poder. A corrupção da política deixa feridas em nossa noção de poder, uma destas feridas sangra o sentido de nossas ações: já não sabemos o que fazer.

A política é a forma das nossas relações: isto vale tanto para o universo da vida privada, a família, quanto para o universo da vida pública, tudo o que envolve a comunidade, desde o trabalho até a religião, desde as festas e comemorações que fazemos com os outros, até a democracia.

De como a habilidade racional das pessoas precisa aliar-se à sensibilidade

O pensamento reflexivo, aquele que compreende o fundamento das coisas e do próprio modo de pensar, é uma das maiores, se não a maior, conquista da humanidade, pois oferece os fundamentos a todas as demais. Nascemos capazes de racionalidade, mas precisamos aprender a desenvolver esta habilidade. A racionalidade avança nos trazendo novas técnicas e soluções tanto científicas como sociais. A racionalidade precisa, porém, da sensibilidade para se desenvolver. A história do conhecimento – da antiguidade à ciência moderna - produziu esta separação.

A humanidade só avançará na reconciliação entre razão e sensibilidade. Esta é uma tarefa que cabe a todas as esferas da sociedade.

Rousseau dizia que o homem racional é, antes de tudo, o homem sensível. A sensibilidade é o que precisa ser elaborada para criar o chão para a racionalidade. Isto significa dizer que nossos sentimentos precisam ser educados para que o conhecimento se torne algo desejável e possível. Sensibilidade não é apenas habilidade para as artes, muito menos mero sentimentalismo, mas capacidade de percepção e compreensão que dão base para nossa habilidade de raciocinar. Sensibilidade é uma forma de atenção que precisamos treinar. Num mundo atravessado e costurado pela tecnologia a sensibilidade é preterida. Corremos o risco de maior intimidade com a máquina do que com os seres humanos?

O desejo de conhecer nos acompanha, mas isto só é possível para a pessoa cujos sentimentos foram educados, é o que aprendemos na modernidade. A educação da sensibilidade é, para crianças ou adultos, o que há de mais complexo e difícil hoje, pois as escolas, as instituições, as famílias, não tem uma compreensão mais abrangente do lugar estratégico da sensibilidade na vida.

Não existiria ciência sem sensibilidade. Pensamos que a ciência avançou porque os homens queriam o poder que ela produz, mas ela não teria surgido sem uma vasta admiração pelas coisas que existem e que podem ser conhecidas. A natureza foi vista por muitos filósofos como um objeto, algo que devia ser desvendado a qualquer custo. O inglês Francis Bacon do século XVII foi o maior defensor desta visão ao dizer que “saber é poder”. Mas antes dele Leonardo da Vinci, entre a ciência e a arte, entre a anatomia e a pintura, dizia que a natureza era a maior das mestras, aquela que nos ensinaria tudo desde que soubéssemos olhar para ela. O aprendizado do olhar é uma forma de desenvolvimento da sensibilidade, mais do que uma mera técnica.

De como a teoria é uma forma de prática

Todo conhecimento nasce de um gesto humano pelo querer saber. Este gesto já é em si mesmo uma atitude. Atitude é um termo que define uma forma de prática. Teoria e prática, olhar e fazer, perceber e agir, estão mais próximos do que costumamos pensar. Só não estamos tão acostumados a pensar que nosso próprio pensar é ele mesmo uma forma de ação. Por que podemos dizer isso? Porque nossos pensamentos sempre nos levam a agir sob duas formas básicas: 1- ou na omissão, na passividade que é a forma negativa da ação, uma espécie de ação contraditória, ação como não-fazer, pela qual temos que fazer um certo esforço, no sentido de assumir uma postura de inação. Neste caso, quando vejo o mundo e, por medo ou por preguiça, ou mesmo por cálculo de vantagens (numa postura utilitarista imediata) eu decido “ficar na minha”; 2- ou conforme a ação positiva, a ação propriamente dita, aquela pela qual temos que escolher, deliberar e responsabilizar-nos. Em ambos os casos, posso agir movido por motivos externos ou internos. Submetido a uma força alheia à minha vontade ou não. A questão da decisão se torna essencial neste caso, pois é apenas a decisão consciente que conseguimos assumir se somos éticos. Porém, a questão maior é “se podemos assumir o que não sabemos que fazemos”. Quem não pensa não sabe o que faz, mas hoje em dia isto não pode ser desculpa. Pensar, refletir, tornou-se um imperativo ético num contexto de vazio do pensamento que leva à banalização de todas as coisas.

Todas as minhas ações são movidas por pensamentos sejam eles conscientes ou inconscientes, sejam claros ou obscuros, sejam meus ou não. Se não penso é possível que outrem esteja pensando no meu lugar e promovendo minhas ações, pois o território dos pensamentos é comum, é compartilhado.

Pensar é outra tarefa urgente. É o modo mais direto de reunião entre razão e sensibilidade, entre o raciocínio lógico necessário à produção da vida, às ações concretas e os dados que nossa atenção e percepção recolhem da realidade na qual estamos inseridos.

A rigor não há teoria sem prática, do mesmo modo que não há prática sem teoria, pois todo pensamento leva a uma ação ou omissão, ao agir ou à inércia. Julgamos mal o pensar que leva à omissão e à inércia, pois sabemos que não há uma ação consistente sem uma teoria que lhe dê bases seguras de compreensão. Pensar é o começo da prática.

Não há ação coerente sem uma compreensão prévia das circunstâncias onde as coisas precisam ocorrer. O pensamento reflexivo é aquele que tem o poder de provocar mudanças ao seu redor.

Ninguém que reflita deixa de mudar, embora a mudança possa ser muitas vezes sentida mais na interioridade do que na objetividade da vida, nas pequenas do que nas grandes coisas, no que é estrutural e não aparente. Nenhuma mudança que se dê sem uma modificação das estruturas profundas pode ser chamada de revolução. Só idéias sólidas, porque fundamentais para a verdade metafísica e ética de nossa existência como espécie, sustentam nosso modo de vida, só outras idéias e novos modos de ver o que existe é que podem mudar nossa vida.


Marcia Tiburi


Texto produzido para o IX Congresso Paulista de Urologia cujo tema foi Pensar, Refletir, Realizar: a Revolução do Saber, setembro de 2006.

O Sobrevivente

Impossível compor um poema, a essa
altura da evolução da humanidade...
Impossível escrever em poema uma linha
que seja de verdadeira poesia...
O último trovador morreu em 1914, tinha
um nome que ninguém se lembra mais...
Há máquinas terrivelmente complicadas
para as necessidades mais simples,
Se quer fumar um charuto, aperte um
botão... paletós abotoam-se por
eletricidade... amor, se faz pelo sem fio...
Não precisa estômago para a digestão...
Um sábio declarou para o jornal que ainda
Falta muito para atingirmos um nível
razoável de cultura... mas até lá...
felizmente estarei morto.


Carlos Drumond de Andrade

Zeca Baleiro e Zélia Duncan - Severina Xique-Xique

A música é do paraibano Genival Lacerda

Advogado pode se tornar 2º santo brasileiro


Depois de Frei Galvão, o Brasil pode ter o seu segundo santo nascido em solo nacional — o primeiro leigo, já que era muito ligado à Igreja Católica mas não era ordenado. Franz de Castro Holzwarth nasceu em Barra do Piraí, no Sul do Rio. No último dia 6, o Vaticano autorizou a abertura do processo de canonização do advogado, que se destacou por defender presos no interior paulista. A canonização se daria por martírio — quando o candidato passa por sofrimento extremo e chega a perder a vida no testemunho da palavra de Cristo — e não por milagres.

Advogado de Barra do Piraí, morto em 1981 durante uma rebelião no estado de São Paulo, pode virar santo Foto: ReproduçãoEm 14 de fevereiro de 1981, aos 38 anos, Franz foi morto em rebelião na cadeia pública de Jacareí (SP). Ele fora chamado para mediar o motim e se ofereceu para ficar como refém no lugar de um policial militar. Franz, um PM e três presos foram surpreendidos por tiroteio na saída do presídio. O veículo que seria usado na fuga, uma Belina, foi metralhado. Franz foi atingido com 30 tiros.

O bispo da Diocese de São José dos Campos (SP), Dom Moacir Silva, responsável pelo processo de canonização, não pode dar declarações devido ao sigilo das investigações. No dia 6, porém, quando nomeou tribunal diocesano para ouvir testemunhas sobre a “trajetória de vida de Franz, similar à de um mártir”, ele postou mensagem na Internet: “Franz deu sua vida, derramou o seu sangue em busca de paz, fruto da Justiça, como fez Jesus Cristo”. Mês que vem, o tribunal começará a tomar depoimentos de parentes e pessoas que conviveram direta ou indiretamente com ele.

Foi em São José e em Jacareí, no Vale do Paraíba, que Franz viveu quase a metade de sua vida. Lá, ganhou notoriedade por ajudar presos pobres a se reintegrar à sociedade, principalmente através da Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac), da qual era um dos fundadores e vice-presidente.

Conforme um dos advogados do processo, Mário Ottoboni, que foi amigo de Franz e uma das testemunhas de sua morte, a beatificação não deverá ser demorada, pois para a classificação de santo mártir não é preciso a confirmação de milagres. A Santa Sé, em Roma, que já havia concedido o título de Servo de Deus (candidato a santo) a Franz, com base em estudos de documentos e 30 entrevistas, deverá se pronunciar até o fim do ano.

“O Papa Bento XVI é quem dará o veredicto. Com certeza, teremos o primeiro mártir dos presos da História da Igreja ”, confia Ottoboni, autor do livro ‘O Mártir do Cárcere’. O processo de beatificação do advogado foi solicitado ao Vaticano em 1991, mas só agora entrou na fase final. De acordo com os trâmites, os restos mortais de Franz, enterrados no Cemitério Santa Rosa, em Barra do Piraí, deverão ser exumados em junho. Os ossos são relíquias importantes, que a Igreja faz questão de preservar como objeto de culto e para provar a existência do santo.

Em Barra do Piraí, a possível santificação de Franz é vista com otimismo e euforia por parentes, amigos e moradores. “Para nós, meu irmão já é santo. Mas, se houver confirmação do Papa, melhor ainda. É um justo reconhecimento por sua luta em prol das questões carcerárias”, orgulha-se o servidor Peter Paulo de Castro Holzwarth, 62. Franz era o mais velho de cinco irmãos. O pai, um mecânico que tinha o mesmo nome de Franz e morreu aos 89 anos, veio para o Brasil na miséria, em 1920, logo após a Primeira Guerra, para trabalhar em fábrica de fitas em Barra do Piraí.


Anos depois, casou-se com Dinorah, hoje com 90 anos, há dois em coma em decorrência de doença degenerativa. A família ajudou a construir a Igreja de Santa Terezinha, no bairro de mesmo nome, ao lado de onde morava. “Ele trazia presos em liberdade condicional para rezar aqui e passava feriados e fins de semana dentro de cadeias pregando a palavra de Deus”, conta Nilson Nunes, 69, cunhado de Franz.

Comoção com o sofrimento de presos

Franz começou a se interessar por advocacia trabalhando num cartório. “Aos 20 anos, mudou-se para a casa de uma tia, em Jacareí, onde se formou em Direito, sonhando em atuar em causas cíveis”, lembra Sônia Maria, 66, irmã de Franz. Certa vez, ele foi chamado para aplicar um curso de crisma na cadeia pública de São José, quando fez questão de falar aos presos de dentro das celas.

“A partir daí, impressionado e comovido com o sofrimento moral e espiritual dos detentos, passou a defendê-los nos tribunais”, conta outra irmã de Franz, Ruth Maria, 56. A peça ‘Servo por Amor’, encenada por 30 jovens da comunidade, começou a percorrer as dioceses de Barra do Piraí e São José.

Milagre de reabrir UTI atribuído a Franz

Há quem garanta que Franz já faça milagres, apesar de sua comprovação não ser necessária. “A UTI da Santa Casa estava fechada por falta de verbas há seis anos. Pedi com muita fé para que ele intercedesse. Incrivelmente, autoridades se prontificaram a ajudar, e a unidade foi reaberta dia 6, recebendo 17 pacientes recém-operados de doenças graves. Um milagre!”, acredita o diretor do hospital, Francisco Cruz de Oliveira, 74.

O prefeito de Barra do Piraí, José Luiz Anchite, 65, foi vizinho e amigo de infância de Franz. “Talvez tenha sido a pessoa mais especial, inteligente, estudiosa e caridosa que conheci”, resume. Além de uma rua, Franz empresta seu nome à casa de custódia de Volta Redonda.


Do Portal Terra / O Dia

sábado, 24 de abril de 2010

O tolo

Conta-se que, há muito tempo, numa pequena cidade do interior, um grupo de pessoas se divertia com o idiota da aldeia. Um pobre coitado, de pouca inteligência, que vivia de pequenos biscates e esmolas.

Diariamente eles chamavam o bobo ao bar onde se reuniam e ofereciam a ele a escolha entre duas moedas: uma grande, de quatrocentos réis, e outra menor, de dois mil réis.

Ele sempre escolhia a maior e menos valiosa, o que era motivo de risos para todos. Certo dia, um dos membros do grupo chamou-o e lhe perguntou se ainda não havia percebido que a moeda maior valia menos.

- Eu sei - respondeu o não tão tolo assim - ela vale cinco vezes menos, mas no dia que eu escolher a outra, a brincadeira acaba e não vou mais ganhar minha moeda.

Há várias conclusões para essa pequena narrativa. A primeira: quem parece idiota, nem sempre é. Dito em forma de pergunta: quais eram os verdadeiros tolos da história?

Outra conclusão: se você for extremamente ganancioso, acabará por estragar sua fonte de renda. Mas a conclusão mais interessante é a percepção de que podemos estar bem mesmo quando os outros não têm uma boa opinião a nosso respeito. Portanto, o que importa não é o que pensam de nós, mas o que realmente somos!

Charge - Néo


Sob os olhos de minha janela

Sob os olhos de minha janela eu vejo a vida, desabrochando nas pétalas do meu macarujazeiro, plantado em meu quintal.

Lampeão, sua história”: Objetivos da primeira biografia erudita do “rei do cangaço”

Publicada no ano de 1926, pela Imprensa Oficial do Estado da Parahyba, o livro “Lampeão, sua história”, de autoria do jornalista Érico de Almeida, é a primeira biografia erudita do “rei do cangaço”.

Almeida militou anos a fio no Jornal paraibano “O Norte”. Quando da ênfase às inovadoras políticas públicas encabeçadas pelo governo Epitácio Pessoa na presidência da República (1919-1921), engajou-se como funcionário do Ministério da Agricultura, lotado no Escritório deste órgão em Princesa (PB), cujo objetivo principal consistia em combater a lagarta rosada, a qual era sério problema para a cultura algodoeira, principal produto da pauta de exportações do Estado da Paraíba na época.

Quando do término do triênio Epitacista, houve total desestímulo dos esforços empreendidos por parte do sucessor, o mineiro Arthur Bernardes, que escandalizado com a onda de corrupção que marcou o período anterior desestruturou as obras de açudagem e outros projetos importantes, incluindo a campanha contra as pragas que atingiam os algodoais.

Com o fechamento dos Escritórios do Ministério da Agricultura espalhados pelo Estado da Paraíba, inclusive o posto estabelecido em Princesa.

Érico de Almeida ficou desempregado, como muitos outros, tendo gerado a sensibilidade do “Coronel” José Pereira Lima, que resolveu unir o útil ao agradável, talvez levando em conta o consórcio do jornalista com mulher da localidade, da família Duarte, de nome Rosa.

Devido ao ataque cangaceiro a Sousa (PB), pois antes Lampião desfrutava de proteção integral na região, graças ao acordo firmado com o “Coronel” Marçal Florentino Diniz e seu filho Marcolino, Zé Pereira se viu na contingência de desviar a atenção dos fatos através da ênfase à literatura voltada para a negação do óbvio.

O ofício de jornalista auxiliou bastante Érico de Almeida quando foi contratado para escrever o que seria a primeira biografia erudita de Lampião, pois o costume de anotar tudo quando do exercício de suas funções como funcionário do Ministério da Agricultura foi de fundamental importância para a elaboração de sua obra.

Os objetivos do livro são claros, pois negar a melindrosa relação de coiterismo que existia há tempos imemoriais na região de Princesa não era tarefa fácil. Lampião, sentindo-se traído, passou a berrar aos quatro cantos as facilidades e as serventias de sua “profissão” aos que estavam lhe perseguindo tenazmente devido à forma como se efetivou o ataque cangaceiro à cidade de Sousa.

No livro “Lampeão, sua história” há a defesa que as perseguições aos cangaceiros datavam de antes do “rei do cangaço” decidir enviar seus homens para levar avante a vingança pretendida por humilde bodegueiro da localidade de Nazarezinho (PB), então distrito de Sousa, contra importante oligarca local de nome Otávio Mariz.

Episódios conhecidos da história do cangaço, como a morte de Meia-Noite nos grotões ermos do saco dos Caçulas, foram deturpados propositalmente a fim de eximir de culpas importantes personagens que fizeram a história do movimento, como Manuel Lopes Diniz, conhecido por Ronco grosso, homem da inteira confiança dos “Coronéis” José Pereira Lima, Marçal Florentino Diniz e de Marcolino.

O livro de Érico de Almeida não cita que Lampião passou meses sendo cuidado nos Patos de Irerê por dois médicos, depois que foi ferido gravemente no tornozelo pelos disparos feitos pelos volantes comandados pelo Major Teófanes Ferraz Torres, da força pública pernambucana.

João Suassuna, presidente paraibano na época, é elevado à categoria de verdadeiro santo protetor, exponencializando consideravelmente a campanha deflagrada pelo gestor paraibano contra os cangaceiros. A forma como Érico de Almeida trata Suassuna em seu livro levou literatos de peso a afirmarem categoricamente que se tratava de um pseudônimo utilizado pelo presidente paraibano para se autopromover.

Elpídio de Almeida afirmou que era Suassuna o real autor do livro, enquanto Mário de Andrade, sutilmente, em “O Baile das Quatro Artes”, enfatizou que havia comentários de que realmente era Suassuna o autor da primeira biografia erudita de Lampião.

Em contato com pessoas que conheceram o jornalista, quando de sua estadia em Princesa, a exemplo dos senhores Zacarias Sitônio, sua esposa Hermosa Goes Sitônio e Belarmino Medeiros, todos residentes em João Pessoa (PB) na época do resgate do livro de Érico de Almeida, encontramos provas suficientes sobre a real existência do autor, como a certidão de casamento e fotografia em que aparece discretamente o jornalista.

Entrevistado em Limoeiro do Norte (CE), quando da fuga alucinada depois da tentativa de ataque a Mossoró (RN), no ano seguinte à publicação do livro de Érico de Almeida, Lampião destilou ódio contra o “Coronel “José Pereira Lima, chamando-o de falso e mentiroso, pois havia se beneficiado com todos os favores de sua “profissão” e depois o havia traído.

Após a revolução de trinta, o livro de Érico de Almeida foi sendo gradativamente esquecido, colocado entre os malditos, fruto de uma estrutura carcomida que precisava ser apagada em prol da edificação de uma nova ordem econômica, política e social.

Com o apoio indispensável do senhor Zacarias Sitônio,que apresentou-nos o livro raro escrito pelo jornalista Érico de Almeida, conseguimos resgatá-lo, no ano de 1996, após matéria publicada no jornal paraibano “Correio da Paraíba”, datado do dia 12 de agosto de 1995, sendo reeditado, setenta anos depois, pela editora universitária da UFPB, que se responsabilizou pela terceira edição em 1998.

Não obstante os profundos vínculos com as estruturas de poder dominantes na República Velha, era imprescindível que o livro “Lampeão, sua história” saísse do ostracismo ao que foi relegado pelos novos mandatários que assumiram o poder com a vitória dos revolucionários em outubro de 1930, pois cessando os exageros existem informações preciosas sobre o ciclo épico do cangaço e sua época que não podem ficar ocultas dos historiadores e dos que apreciam as velhas coisas sobre o semiárido do nordeste brasileiro.



José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo (UFPB). Professor-adjunto do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Campus Central, Mossoró/RN. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA/UERN)


Adoniran Barbosa - Samba do Ernesto

O popular e o erudito

Escultura em bronze baseada no quadro "O Terapeuta" de Magritte


Fogareiros anônimos vendidos em dias de feira no sertão


Presos provisórios da PB terão direito ao voto nas eleições 2010


Os membros do Conselho Estadual de Coordenação Penitenciária (CECP) estiveram reunidos com os juízes eleitorais do Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba (TER-PB) Tércio Chaves de Moura, Carlos Neves da Franca Neto e João Ricardo Coelho para discutir sobre a participação pioneira dos presos provisórios do Estado no processo eleitoral de 2010.

Durante a reunião, realizada no quinta-feira (21), no PB-1, foram discutidas questões técnicas como o cadastramento dos presos dentro do prazo estabelecido pela Justiça Eleitoral, que se encerra no dia 5 de maio; o número de sessões eleitorais de acordo com a quantidade de presos aptos a votar; procedimento para a coleta de votos de presos provisórios que transferirem seu título, logística para garantir a segurança interna e externa; e o espaço físico para a realização do pleito. O objetivo é de que a resolução do Tribunal Superior Eleitoral seja cumprida na Paraíba com eficiência e eficácia.

Em setembro de 2009, o Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba (TRE-PB) criou duas sessões eleitorais para coleta de votos dos detentos que se encontram na condição de presos provisórios, que funcionarão na Penitenciária Desembargador Flóscolo da Nóbrega (Presídio do Roger) e uma na Penitenciária de Reeducação Feminina Maria Júlia Maranhão.

A criação dos locais de votação e seções eleitorais será feita pelos cartórios da 1º e 70° zonas eleitorais, localizadas nos bairros do Roger e de Mangabeira, respectivamente.

Segundo o secretário de Cidadania e Administração Penitenciária (Secap), Carlos Mangueira, que compõe o Conselho, cumprindo o que determina a resolução do TSE, os serviços eleitorais de alistamento, revisão e transferência serão realizados pelos servidores da Justiça Eleitoral, nos próprios estabelecimentos penais.

No que se refere à emissão de documentos de identificação dos presos provisórios, o secretário garantiu que a Secap estará disponibilizando uma equipe do Programa Cidadão, da própria secretaria, para emitir gratuitamente àqueles que porventura tenham perdido os seus e precisem de uma segunda via.

Quanto à segurança, a resolução prevê que convênios de cooperação técnica sejam firmados entre a Justiça Eleitoral e entidades ligadas ao sistema prisional e socioeducativo para garantir condições indispensáveis de segurança e cidadania para o exercício do direito de voto.

O Juiz Eleitoral João Ricardo Coelho concorda que para garantir a segurança ao processo e, principalmente, por conhecer a população carcerária pessoalmente, o ideal seria que os mesários e os demais auxiliares da justiça eleitoral que participarão do pleito sejam compostos de servidores da própria secretaria de Cidadania e Administração Penitenciária (Secap).

“A Secretaria estará disponibilizando o pessoal para contribuir com a justiça eleitoral durante todo o processo eleitoral. A escolha de seus representantes por meio do voto é um direito protegido constitucionalmente e não mediremos esforços para que esse direito seja resguardado”, disse Mangueira.

Tem direito ao voto nas eleições gerais 2010, o preso provisório – que ainda não teve condenação criminal definitiva – e os adolescentes em medida socioeducativas de internação. O preso que, no dia da eleição, tiver contra si sentença penal condenatória transitada em julgado ficará impedido de votar.

Os que não realizarem a transferência do título deverão justificar a ausência no domicílio de origem, no dia da eleição, no próprio estabelecimento penal.



Do PBAgora

Trupe Canadense

sexta-feira, 23 de abril de 2010

A verdadeira arte de viajar

A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa,
Como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo.
Não importa que os compromissos, as obrigações, estejam ali...
Chegamos de muito longe, de alma aberta e o coração cantando!


Mario Quintana - A verdadeira cor do invisível


*Enviada por Josélia, leitora do blog

Vídeo erótico cancela casamento e briga deixa mulher em coma

Uma mulher argentina confessou ter agredido uma amiga na cabeça com um martelo de cozinha, usado para bifes, depois de desconfiar que amiga mostrou ao futuro marido da agressora um vídeo erótico.

O vídeo, que mostra a noiva, Silvia Luna, levou o noivo a cancelar o casamento que seria realizado neste fim de semana, na localidade de General Las Heras, na Província de Buenos Aires.

A vítima da agressão, Carola Rosa Bruzzoni, está em coma irreversível. Nesta quinta-feira (22), a autora do ataque ficou presa após fazer as declarações à polícia e foi acusada de "tentativa de homicídio".

As duas trabalhavam num restaurante da cidade.

"Não sei como cheguei a essa situação. Agora, fiquei sem marido, sem aliança e sem vestido", afirmou Silvia à polícia.

Ela também pediu "desculpas" à família da vítima, dizendo que "não tinha a intenção de ferir ou de matá-la".

Discussão

Segundo a imprensa local, o dono do restaurante determinou que as duas fossem para casa após terem uma briga, que incluiu a agressão com o martelo de cozinha.

Carola passou mal quando já estava em sua casa e foi levada pelo marido ao hospital local, onde foi detectado que ela tinha sofrido afundamento do crânio.

Os médicos a colocaram em coma induzido, mas disseram que agora ela estaria em estado irreversível.

Nesta quinta-feira, o marido de Carola disse que "nenhum vídeo" justificaria a agressão sofrida pela mulher.

"Eu só sei que agora minha mulher está nesta situação. Espero que a pessoa que fez isso, que a deixou neste estado pague por isso", disse à emissora de televisão TN (Todo Noticias).

O advogado da família de Carola Bruzzoni, Cristian Pérez Solís, disse que o vídeo é uma "desculpa" da agressora para "justificar" sua ação.

"Esta é uma comunidade pequena, e esse vídeo já vinha circulando em General Las Heras há pelo menos cinco ou seis meses. Muitos viram esse vídeo e por isso não faz sentido que Silvia diga que atacou Carola por isso", afirmou o advogado. Na sua opinião, o vídeo faz parte da "estratégia da defesa" da agressora.

A cidade de General Las Heras tem 14 mil habitantes e fica a 67 quilômetros da capital argentina, Buenos Aires.



Da Folha Online

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Paraíba ao som de Renata Arruda

A ética da responsabilidade


Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina.
Continua nestes deveres; porque,
fazendo assim, salvarás tanto a
ti mesmo como aos teus ouvintes.
(I Timóteo 4:16)

Se observarmos bem, nossa sociedade tem procurado se distanciar de suas responsabilidades. Dois aspectos podem comprovar essa afirmação. O individualismo que se sobrepõe ao coletivo e a prática de se omitir diante dos problemas que são de sua responsabilidade.

Em sociedade, todas as nossas ações devem ser voltadas para a manutenção de uma paz coletiva, de uma ordem pública e de justiça social.

Não adianta querer se encastelar e ganhar todo o dinheiro do mundo, em detrimento de muitos que ganham tão pouco. Isso causa a revolta popular. É isso que tem acontecido com o Brasil hoje. As elites políticas e econômicas, leia-se os grandes políticos, banqueiros, latifundiários e empresários, só visam o lucro e o crescimento de seu patrimônio e esquecem de criar meios e oportunidades para o crescimento dos trabalhadores e dos pobres, ocasionando um grande abismo social, no qual os ricos ficam mais ricos e os pobres mais pobres.

Eis a causa da violência urbana e rural. Quem tem, quer mais, quem não tem, também quer ter. Como os que têm não se dispõem a partilhar, gera a insatisfação dos trabalhadores e, infelizmente, muitos deles, vendo sua má situação e da própria família, armam-se e passam a contrapor-se a esse processo de opressão, também com opressão, gerando violência e criminalidade. Por isso, é preciso que essas elites se dêem conta de sua responsabilidade com o coletivo e não só com seus bolsos. É necessário que, juntamente com o Governo Instituído, repensem o Brasil, exigindo maciços investimentos na área de educação, na saúde e na segurança pública, tripé fundamental para a sustentação de qualquer sociedade.


É importante, também, atentar para a conduta de cada um no dia-a-dia e ver se sua atitude tem sido egocêntrica, ou seja, pensando só no seu umbigo para usar uma expressão em voga. Será que o cidadão tem se preocupado com a segurança pública, denunciando e contribuindo para as investigações policiais ou tem esperado que as autoridades façam milagres sem a cooperação popular? Numa fila, que é um coletivo de pessoas esperando atendimento, está havendo rigor na ordem de espera ou alguém fura a fila? Esses são exemplos simples de como seu comportamento inadequado contribui para a desordem na sociedade. Ao queimar um sinal vermelho, você com certeza terá ganhado tempo e vantagem, mas coloca em risco sua segurança e de todos os usuários do trânsito. Ao não se prontificar em testemunhar um crime que sabe que ocorreu, você contribui com a impunidade e pode ser vítima, assim como toda a sociedade, do criminoso que antes encobriu. Ao furar uma fila, você é atendido primeiro, mas dá mau exemplo e contribui para a desordem, da qual poderá ser vítima.

É preciso que todos entendam que uma sociedade se faz da ação individual de cada um. Se todos agirem com desrespeito ao coletivo, instala-se a desordem. Ao contrário, quando as ações individuais se voltam para a prática do que é certo, a ordem e a autoridade vão se instalando e haverá desenvolvimento. Exigir o que é certo é um direito de cada um. Cumprir o que a lei manda é um dever do cidadão. Por isso, não se acanhe em cobrar daqueles que tem obrigação de fazer. Aos que furam fila, que voltem para seu lugar, no final da fila. É ético e é legal. Quem está errado não é você que exige o que é certo, mas sim que está furando a fila.

Só com ações de cidadão é que nos armamos para cobrar das autoridades as suas responsabilidades. Não adianta ir para um protesto por melhores salários, se acaso você não presta um bom serviço. Falta-lhe moral para sua exigência. Não é por que o seu salário não é bom que você vai deixar de cumprir seu dever. Seu dever, ao assumir o emprego, especialmente público, é cumprir suas tarefas pré-determinadas. Tome-se, por exemplo, o cidadão que se submete a um concurso público. Antes de entrar no serviço público, ele fica sabendo quais serão suas obrigações para o com trabalho, atribuições e também quanto será seu salário. Concorda, faz o concurso, é aprovado. No entanto, após adentrar no serviço público, alguns se acham na regalia de dizer: “ah eu não vou trabalhar por que eu ganho mal!”, ou ainda, “ah! Já fiz o suficiente para o que eu ganho”. Tal percepção é errada e retira do servidor sua parcela de contribuição para a melhoria da sociedade. Ora, se entende que o salário é insuficiente tem que lutar por melhores salários, mas não se esquivar das obrigações, pois só se pode exigir salários melhores aquele que demonstra responsabilidade no seu labor profissional.

A maneira de reivindicar é também demonstração de ação coletiva e não individual, pois se toda uma categoria tem baixos salários, é preciso que todos se engajem na luta. Não adianta esperar pelo sindicato apenas, é preciso falar, reunir-se, movimentar-se, explicar a população por qual motivo se estar cobrando melhores salários e, especialmente, cumprir seus deveres para com a sociedade.

O individualismo das ações que não se voltam para o coletivo causa prejuízos em toda a sociedade e se volta contra todos, inclusive contra o próprio indivíduo egoísta.

Outro fato a ser observado, diz respeito às responsabilidades que cada um tem na sociedade, especialmente os profissionais e as autoridades. Todos nós temos deveres para com o coletivo, no entanto, aos profissionais e ás autoridades a lei impõe também responsabilidades e atribuições.

Conhecedor desses deveres impõe-se o comprometimento com seu cumprimento. Não há porque se omitir ou passar para outro uma responsabilidade que lhe pertence. Infelizmente, isso tem acontecido muito e, via de conseqüência, tem acarretado a falta de solução para graves problemas de nossa sociedade.

Pensemos num hospital. Trata-se de um lugar aonde existem vários profissionais, mas cada um sabe qual é o seu serviço. O diretor sabe que precisa gerenciar toda a estrutura de material, de serviços e de profissionais. O médico sabe que sua função é cuidar de seus pacientes e, indiferente de outras preocupações, precisa agir para prestar um atendimento adequado. A enfermeira tem conhecimento de que precisa auxiliar o médico e o técnico de enfermagem sabe que precisa dar a medicação prescrita. O auxiliar de serviços tem ciência que seu trabalho mantém limpo o hospital. O segurança faz garantir a ordem e a tranqüilidade.

Assim também deve ser em todos os outros setores da sociedade. Um dos grandes problemas enfrentados pela população brasileira é o jogo de empurra dos profissionais e das autoridades nas instituições públicas. Quem já precisou resolver uma questão em órgão público sabe do que falo. Por óbvio que a maioria da população não sabe como se dá o funcionamento dos órgãos públicos. Quem vai ao Fórum, em sua grande maioria, não conhece seu funcionamento. Por isso, nem sequer sabe a quem procurar. E isso se ocorre em todas as outras instituições, bancos, receitas, coletorias, hospitais, prefeituras, delegacias e muito mias.


Pois bem, o que ocorre é que essa pessoa vai se dirigir a um profissional que não é o responsável pelo seu caso e em seguida ser encaminhado a outro e depois a outro e assim permanece sua via-crúcis.

Como se isso não fosse suficiente, há ainda aqueles casos, aliás, poderíamos chamar de descaso, em que a autoridade competente se diz sem atribuições e passa o caso para outras autoridades tornando irresoluto o problema e deixando o cidadão indignado com o descaso do Estado, enveredando quase sempre por outro caminho para resolver a situação, gerando descrédito da população nas instituições e criando um Estado Paralelo.

O descaso por parte das autoridades constituídas causa desordem e insegurança. Isto é perigoso para a legitimação das instituições. É perigoso pelo fato de que o povo pode passar a criar suas próprias leis, desconstituindo o Estado, antes criado e impondo a revolta e a desobediência civil, fato grave.

Não há no ordenamento jurídico previsibilidade de omissão do Estado em face da segurança da população, por isso não se justifica a ausência de autoridade responsável por um determinado fato. O que pode haver é descaso, irresponsabilidade ou omissão da autoridade, mas não do Estado em si.

Diariamente funcionários públicos demonstram má vontade em atender a população, policias se esquivando de suas obrigações e tapando os olhos para crimes e fatos errados que acontecem, fiscais de trânsito que mais parecem postes com atitudes de omissão perante as infrações de trânsitos, juízes que não se prestam em atender a população e despachar seus processos, promotores de justiça que não tomam iniciativas de agir em nome da sociedade, defensores públicos que não trabalham, políticos e autoridades se esquivando de resolverem os problemas da saúde, da educação, dos baixos salários e da miséria. Enfim, a falta de responsabilidade tem trazido conseqüências nefastas para toda a população, inclusive para os que se esquivam da sua responsabilidade.

É preciso que cada um cumpra sua missão e cobre dos demais. Os problemas existentes não são empecilhos para a desenvoltura do trabalho. Muitas vezes a má-vontade e a preguiça é que são determinantes para o não cumprimento das obrigações assumidas.

A ética da responsabilidade passa por esses dois aspectos. A conduta coletiva que se traduz na ação que beneficie a si e não prejudique a coletividade e a responsabilidade pelo cumprimento de suas obrigações.

Ser cidadão consciente é participar de forma ativa da construção da sociedade, é exigir de quem tem o dever o cumprimento de suas responsabilidades, é cobrar dos governantes políticas públicas sérias e de resultados.

A sociedade, portanto, é composta por um conjunto de cidadão, mas ação de cada cidadão determina a qualidade que terá essa sociedade. Se todos se comportarem com ética e responsabilidade, com certeza faremos uma sociedade melhor. Se cada cidadão se portar com decência e respeito ao próximo teremos melhor capacidade de cobrar de nossos governantes uma postura mais ética e responsável.

Lembremos que um oceano só é formado por que existem várias gotas d’águas, um deserto só é tão grande por que os grãos de areias possibilitam e assim também se passa com uma sociedade. Nós somos aquilo que fazemos.



Edivan Rodrigues Alexandre.
Juiz de Direito
Titular da 4ª. Vara da Comarca de Cajazeiras-PB