quarta-feira, 16 de junho de 2010

Carolina de Jesus: Uma grande escritora ainda esquecida

Carolina de Jesus era negra, favelada, vivia a perambular pelas ruas de São Paulo catando papéis para sua sobrevivência e tinha um hábito, escrever seu dia-a-dia, suas agruras e os seus infortúnios.

Certa dia, seus escritos foram descobertos por um jornalista. Admirado com o que Carolina de Jesus escreveu, corrigiu-os e conseguiu a publicação, resultando em opúsculo por título “Quarto de despejo”.

O livro tornou-se Best seller quando do lançamento, alçando Carolina de Jesus aos mais altos patamares da fama da glória e também de uma riqueza que nunca imaginou ter em sua caminhada de desespero até então. Era uma virada de trezentos e sessenta graus na vida da desditada negra e favelada que sobrevivia catando lixo, absolutamente excluída da sociedade hipócrita e intransigente, formada pelos antigos donos do poder que se perpetuaram através da sua descendência, em razão que a rigidez com que a estrutura social brasileira ainda se apresenta reproduz a original com a qual foi montada a formação social, econômica e espacial do país.

Carolina de Jesus tornou-se a principal figura de jornais e revistas, sendo convidada para solenidades, eventos e homenagens por diversas personalidades brasileiras e exteriores. A ex-mendiga que a vida estropiou foi convidada de honra do governo uruguaio, sendo louvada em razão que seu livro teve tradução para o espanhol, bem como em outras línguas.

Carolina não estava preparada para aquela mudança. Manteve a humildade e passou a torrar dinheiro com quem precisava e com quem não precisava, bem como proporcionando festas homéricas, muitas regadas ao libertínio que nunca conseguira atingir devido à sua condição de pária e deserdada em grau exponencial.

A resposta da sociedade hipócrita, despertada do encanto inicial, passou a enxergar àquela ex-favelada como um estorvo no caminho natural que historicamente e atavicamente seguem os rumos da construção social no Brasil.

Carolina teve a infeliz idéia, para sua época, de querer sair nua no carnaval A sociedade moralista e hipócrita não perdoou. Era a gota d´água que faltava para que agisse antigo ódio devotada à classe menos favorecida. Exemplo disso temos ainda com o caso de Josué de Castro, pois o motivo da exclusão, pela ditadura militar, do célebre cientista nacional move-se pelos mesmos trilhos que levaram Carolina de Jesus de volta à antiga condição, embora Josué de castro não tenha passado pelos mesmos infortúnios da importante escritora brasileira, infelizmente ainda desconhecida no presente.

Livro raro, difícil de ser encontrado, pois poucas edições foram feitas, “Quarto de Despejo” deve ser lido pelas gerações que não sabem quem foi a autora, sua vida e suas amarguras, sue estrelado e sua decadência.

Carolina de Jesus representa um símbolo da luta pela emancipação feminina e pela ascensão social das classes menos favorecidas, no caso dela desfavorecida em grau absoluto, pois a negra e favelada alcançou sucesso, riqueza e fama de forma incrível, mas vítima da hipocrisia e do escárnio da alta sociedade foi obrigada a retornar ao verdadeiro inferno que vivia antes da publicação de “Quarto de Despejo”, morrendo na mais absoluta miséria que a marcou desde o nascimento.



José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor-adjunto da UERN. Mestre em Desenvolvimento eMeio Ambiente.



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