sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Inscrição

Aqui, sob esta pedra, onde o orvalho roreja,
Repousa, embalsamado em óleos vegetais,
O alvo corpo de quem, como uma ave que adeja,
Dançava descuidosa, e hoje não dança mais…

Quem não a viu é bem provável que não veja
Outro conjunto igual de partes naturais.
Os véus tinham-lhe ciúme. Outras, tinham-lhe inveja.
E ao fitá-la os varões tinham pasmos sensuais.

A morte a surpreendeu um dia que sonhava.
Ao pôr do sol, desceu entre sombras fiéis
À terra, sobre a qual tão de leve pesava…

Eram as suas mãos mais lindas sem anéis…
Tinha os olhos azuis… Era loura e dançava…
Seu destino foi curto e bom… – Não a choreis.


Manuel Bandeira

2 comentários:

Anônimo disse...

TINHA QUE SER LOURA E DE OLHOS CLAROS ? ? ?

Jairo Alves disse...

Restou a Bandeira a tua imaginação e retrato enquanto vida, em todos os dias de sua amorosa compaixão...