domingo, 17 de junho de 2012

O truque da renúncia

Diz a lenda que Jânio Quadros renunciou à presidência para testar seu poder de fogo. Acreditava que o povo não aceitaria perdê-lo e que eclodiriam manifestações por todo o país implorando pela sua permanência. Desse modo, seu cargo seria mantido com apoio popular e o desgaste político que vinha ocorrendo seria esquecido. Erro brutal de cálculo. A renúncia de Jânio não só foi aceita como foi muito bem-vinda. Ninguém o segurou pelos pés pedindo que ficasse. O truque falhou. Essas renúncias armadas pela vaidade acontecem com muita freqüência entre casais. O cara ou a garota resolve dizer que está insatisfeito com o rumo que a relação tomou e avisa que está saltando fora. No fundo, quer apenas testar o amor do outro, ver o outro desesperado com a ausência iminente e argumentando em favor da continuidade do relacionamento. Às vezes dá certo. Às vezes não.

Posso ver a cena:

- Fabiana, acho que todo relacionamento precisa de um mínimo de cuidado, e eu sinto que você está se lixando para o nosso namoro. Talvez seja a hora de acabarmos tudo.

O que ele quer ouvir é:

- De onde você tirou essa idéia? Eu sou louca por você, não consigo nem imaginar ficar longe de você. O que está errado? Vamos conversar.

Mas o que ele escuta é uma navalhada no ego:

- Tudo bem, Ricardo.

É um jogo perigoso. A pessoa que toma a iniciativa de romper tem suas razões para isso, e o faz, quase sempre, com a intenção de terminar tudo mesmo, inclusive torcendo para que não haja reação dramática do outro lado. Mas a aceitação pacífica do final do romance acaba magoando, pois é a prova de que não faremos tanta falta. Rompimentos não devem ser usados como testes de ibope. Se o outro gosta mesmo de você, vai sofrer inutilmente. E se não gosta, quem vai sofrer é você, pois terá dado a ele o álibi perfeito para sair da situação sem culpa. Renuncie só quando estiver mesmo disposto a abandonar o barco. De mentirinha, é um risco que é melhor não correr.
 
 
Martha Medeiros

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