sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Traduzir ou não, eis a questão!

Tenho um enorme fascínio pela profissão de tradutor. Sendo eu uma apaixonada pelas letras, delicio-me com a imensidão de palavras que existem em cada idioma e nas equivalências entre elas. Maravilho-me com expressões idiomáticas, estrangeirismos, e mais ainda com as palavras ou expressões que são únicas em cada língua, pertença da cultura que lhes deu origem.
 
Quando era miúda passou-me pela cabeça ser jornalista, depois ganhei juízo e percebi que seria mais bem sucedida como economista mas hoje, olhando para trás, acho que teria sido uma boa tradutora, ou talvez não… Admiro imenso a profissão e acho-a verdadeiramente útil no contexto de globalização em que vivemos. Não consigo conceber o mundo como um conjunto de povos isolados, sem contacto uns com os outros, nem me imagino a viver confinada à produção nacional. Existe muita coisa boa e interessante produzida em português, mas não podemos esquecer-nos que o conhecimento advém do que já foi dito, escrito ou traduzido, o resto é fruto do que a nossa imaginação cria e traz à luz do mundo.
 
Claro que ao falar em tradução não posso deixar de mencionar a indústria audiovisual. Confesso que a minha falta de conhecimento me levou muitas vezes a criticar este tipo de tradução, com comentários do tipo: “que péssima tradução”, “ele não disse aquilo”, “ele disse muito mais do que foi traduzido”, ou o mais castrador “os portugueses não sabem traduzir”. Foi preciso ter alguma humildade para revelar estes comentários a uma amiga, tradutora de audiovisual, e pedir que me explicasse porque é que a tradução em Portugal não é fiel ao que é dito pelos actores. A explicação, surpreendentemente simples, revelou-me a minha ignorância sobre o assunto. De fato, a tradução audiovisual é bem mais complexa do que parece à primeira vista, é necessário cumprir regras criteriosas, nomeadamente, número de palavras por linha e número de palavras em cada cena. Traduzir um filme, por exemplo, não tem nada a ver com a tradução de um livro, em que para transmitir uma determinada ideia se pode recorrer a uma explicação minuciosa. A tradução audiovisual tem de ser simples e perceptível, transmitindo apenas as ideias principais, até porque o mais importante é conciliar o que se lê com o que se vê. Depois disso, comecei a comparar traduções de filmes em inglês com legendas em inglês e dei-me conta que as traduções portuguesas seguem as mesmas regras que as outras.
 
Como diz a minha amiga tradutora, o trabalho do tradutor deve ser invisível, isso marca uma boa tradução. E hoje, realisticamente, sou levada a concluir que a profissão de tradutor me fascina, mas não é para mim!
 
 
Por Joana Nave

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