terça-feira, 20 de novembro de 2012

Vergonha nacional

Faz falta ao Brasil uma boa lei que facilite — ou, melhor, torne obrigatória — a punição dos bandidos de terno e gravata. É como se pode definir os chefões da corrupção no país. Existe um projeto de lei cuidando do assunto.
 
Foi proposto pelo Poder Executivo em 2010. Infelizmente, ele dorme numa comissão especial da Câmara dos Deputados há mais de um ano.
 
Isso se deve, segundo informam deputados da própria comissão, a um lobby sustentado por empresas de engenharia e de construção civil. Não são conhecidos os argumentos usados pelos lobistas. Mas a turma da arquibancada, também conhecida como opinião pública, ainda não tomou conhecimento do assunto.
 
Há pouco tempo, a arquibancada tomou conhecimento das estripulias do banqueiro de bicho Carlinhos Cachoeira, e isso foi decisivo para a prisão de Carlinhos. A lei contra a corrupção, se já estivesse em vigor, aumentaria consideravelmente o número de companheiros dele na cadeia.
 
Faz falta um movimento popular que torne isso possível. Seria o lobby da opinião pública contra o lobby das empresas. A sua meta seria uma pressão sobre o Legislativo para levar adiante a tramitação da lei contra a corrupção. Deputados e senadores dificilmente resistiriam a uma forte manifestação da vontade dos eleitores.
 
Seria muito difícil para os representantes do povo resistirem a uma manifestação firme da vontade dos cidadãos que lhes concederam a representação. Principalmente porque a nova lei significaria a obediência do Brasil ao compromisso assumido pelo seu governo, há 12 anos, quando ratificou uma convenção da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico contra o suborno.
 
Há pouco tempo, levamos um puxão de orelhas da OCDE, acompanhado da ameaça de uma recomendação a empresas dos seus países-membros, no sentido de que suspendessem seus negócios com o Brasil.
 
É de envergonhar. Será preciso que o povo volte às ruas, para cobrar decência de seus representantes?

 
 
Luiz Garcia é jornalista
O Globo

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