Em massacres como esse da escola primária de Connecticut, nos EUA, o que
aumenta nossa indignação, o que nos faz sofrer ainda mais é a impossibilidade de
descarregar nossa revolta em alguém, é não poder punir o culpado, é saber que a
justiça não será feita, é não conseguir encontrar alguma justificativa para o
que aconteceu.
A polícia continua buscando os motivos, a imprensa tenta encontrar as causas,
mas nem a família consegue entender o gesto assassino daquele monstro que criou
durante 20 anos sem saber do horror de que ele seria capaz.
Não cessamos de nos perguntar: como pode um ser humano praticar tanta maldade
fria e calculadamente contra 26 semelhantes inocentes — 20 crianças, cinco
professoras e a própria mãe?
A primeira reação é atribuir a responsabilidade às armas. Episódios
recorrentes como esse seriam a metonímia de um país permissivamente armado até
os dentes e, em consequência, potencialmente homicida.
Sempre que isso acontece, ressurge o debate sobre a necessidade de controlar
o uso das armas de fogo. Na sua quarta viagem este ano para consolar parentes de
vítimas de massacres semelhantes, Obama chorou e discursou apelando para “ações
significativas”, mas silenciou sobre a lei do armamento, como aliás fizera na
campanha, quando um atirador de 24 anos lançou uma bomba de gás e fez vários
disparos contra a plateia de um cinema de Aurora, no Colorado, matando doze
espectadores e ferindo mais de 50.
Michael Bloomberg, prefeito de Nova York, criticou a omissão presidencial:
“Apelo só não basta. Já ouvimos essa retórica. O que não vimos é liderança do
presidente ou do Congresso.”
Os armamentistas alegam que o simples controle de armas não diminui a
violência (o Brasil com as altas taxas de crimes seria um exemplo) e nem evita
os comportamentos aberrantes.
Mesmo países da pacífica Escandinávia têm sido vítimas deles. A Finlândia e a
Noruega, modelos no controle de armamento, não conseguiram impedir terríveis
tragédias, como a ação coordenada de um neonazista, que em 2011 jogou uma bomba
no centro de Oslo e atirou a esmo num acampamento de jovens, exterminando mais
de 90 pessoas.
O movimento por regras mais rígidas, do qual participam legisladores e 600
prefeitos liderados por Bloomberg, porém, fará pressão sobre Obama para que um
maior controle impeça os EUA, onde o número de armas passou de 200 milhões em
1995 para 270 milhões hoje (em cada dez habitantes, nove estão armados), de
continuar sendo um dos campeões mundiais em tiro ao alvo — humano.
Zuenir Ventura, O Globo
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