quinta-feira, 28 de março de 2013

Chocolate amargo pode até emagrecer, diz pesquisa

Vedete de pesquisas científicas recentes, o chocolate, além de tudo, é agora um possível aliado na luta para a perda de peso, conforme um estudo feito pela Universidade da Califórnia.

O trabalho, publicado na revista americana "Archives of Internal Medicine", analisou os hábitos alimentares de 972 pessoas entre 20 e 85 anos sem doenças cardiovasculares, diabetes ou colesterol.

Entre os voluntários, aqueles que relataram comer chocolate mais vezes, mesmo mantendo no cardápio uma quantidade maior de gordura saturada e calorias, foram os que tiveram menor IMC (índice de massa corporal). O benefício atribuído ao alimento foi identificado até entre os participantes que não praticavam atividades físicas.

O trabalho não investigou como isso acontece. Porém, há algumas hipóteses.

Beatrice Golomb, autora do estudo, afirmou a jornais americanos que os ácidos fenólicos presentes no cacau, como os flavonoides, ajudam a equilibrar a produção do hormônio leptina, que se comunica com o hipotálamo, no cérebro, aumentando a sensação de saciedade e acelerando a queima calórica.

Outro estudo, da Universidade Real de Copenhague, avaliou o apetite de 16 jovens saudáveis antes e depois da ingestão 100 g de chocolate amargo ou ao leite.

"Sempre que comiam o chocolate amargo, os participantes sentiam menos fome e consumiam menos alimentos", afirmou à Folha a pesquisadora Lone Sorensen, coordenadora da pesquisa.

A ingestão de calorias pós-chocolate amargo foi 15% menor em comparação com consumo pós-chocolate ao leite. Para ela, uma explicação é o alto teor de manteiga de cacau no produto, que significa mais ácido esteárico (tipo de ácido graxo). A substância retarda o esvaziamento do estômago e do intestino.

Controle do apetite

O chocolate ganhou status de alimento funcional por causa dos flavonoides presentes nas sementes do cacau. Essas substâncias têm poder antioxidante, melhoram a circulação e o funcionamento das células cardíacas, explica a nutricionista Milene Pufal, da PUC-RS.

Para conseguir esses benefícios, quanto mais cacau, melhor, por isso a indicação do tipo amargo.

Depois de estudar 16 pesquisas científicas sobre o assunto, a nutricionista Vanderli Marchiori passou a indicar o chocolate com alto teor de cacau a pacientes que precisam controlar o apetite. Ela recomenda de 20 a 40 gramas ao dia para qualquer dieta, como arma para diminuir a vontade de comer doce.

Marchiori explica que o equilíbrio do hormônio leptina ativa os receptores opioides, localizados no sistema límbico (parte do cérebro responsável pelas emoções). Esses receptores reduzem a compulsão alimentar. "Eles diminuem as chances de recaída entre pessoas viciadas em açúcar."

Faltam estudos

Mais cauteloso, o endocrinologista Marcio Mancini, chefe do Grupo de Obesidade do Hospital das Clínicas de São Paulo, afirma que são necessárias mais evidências para associar chocolate e redução de peso.

"Há apenas um estudo em ratos mostrando que os polifenois do cacau promovem uma redução de massa, diminuindo o armazenamento de gordura por maior gasto de energia celular."

Para quem deseja emagrecer, Sorensen lembra que, amargo ou não, o chocolate é rico em energia. "São até 500 calorias para cada 100 gramas. Não é para comer grandes quantidades. Mas é uma ótima ideia trocar a versão ao leite pelo chocolate amargo, porque ele satisfaz o desejo de doces por um longo tempo", diz ela.

A pesquisadora Adriana Buitrago Lopez, do Departamento de Cardiologia da Universidade de Roterdã, na Holanda, afirma que o consumo de grandes quantidades de chocolate pode anular seus benefícios. "Leva ao ganho de peso, o que aumenta o risco cardíaco", alerta.

Lopez participou de um estudo que envolveu cem mil pessoas e avaliou o efeito da ingestão de chocolate sobre a incidência de ataques cardíacos e derrames (leia mais no quadro ao lado).

Problema de sabor

Além das calorias, outro porém do chocolate amargo é o sabor. "Muitos consumidores ainda não estão adaptados", diz Cynthia Ditchfield, engenheira química e professora da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP.

Ela e outras professoras estudam, desde 2009, uma maneira de deixar o chocolate com alto teor de cacau (acima de 50%) menos amargo.

A pesquisa aborda as variedades de cacau utilizadas, a microbiologia e os processos produtivos. Cor, textura, acidez, teor de lipídeos, açúcares e proteínas, tudo está sendo levado em conta.

A conclusão preliminar é que há margem para avanços, que podem ser conquistados a partir de fatores que vão desde a seleção e a separação das amêndoas do cacau até o aperfeiçoamento na fabricação do produto. "É possível substituir processos industriais e melhorar o sabor do chocolate amargo. Entretanto, na grande indústria o espaço para essas mudanças é menor, o que indica que os chocolates com mais cacau continuarão a ter uma produção mais restrita e segmentada", diz Ditchfield.

Fonte: UOL

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