domingo, 26 de janeiro de 2014

Com vocês, um analfabyte

Às vezes, acho que sou o único no mundo a não usar celular, a não ter página no facebook, a não acessar blogs e a nunca ter enviado ou recebido uma mensagem por Twitter, o que não me impede de eventualmente aparecer nessas redes dando opinião, recomendando produtos, ditando regras, dizendo coisas aceitáveis e até bobagens que muita gente curtiu.

Já tuitei, por exemplo, o elogio rasgado a um artista que admiro, tudo bem. Mas, e se eu tivesse falado mal dele? Pior foi a descoberta, que já contei aqui, da existência do que chamei de meu “fakebook”. Depois de não sei quanto tempo e de algum sucesso junto a inúmeros e desprevenidos seguidores, soube da fraude, reclamei e a página foi retirada do ar.

E se um amigo não tivesse me avisado? Como adivinhar o que é falso em meio a informações corretas e outras que poderiam ser? Censura, nem pensar. Mas não haverá um filtro para impedir esses e outros contos do vigário virtuais? É um dos problemas que a internet ainda não resolveu e que tira dela a credibilidade.

No entanto, não é por isso que sou um analfabyte, é por incompetência mesmo, o que me deixa “desconectado”, isto é, isolado de um mundo em que as pessoas cada vez mais passam horas diante dessas redes sociais vendo a vida passar. Foi-se o tempo do contato direto, do boca a boca, do olho no olho. É como se toda comunicação hoje tivesse que ser mediada por uma tecnologia: internet, TV, rádio.

Por isso, e porque não aguento mais o desprezo por não saber lidar com as novas ferramentas, estava decidido a me atualizar e entrar para o facebook. Mas aí li que uma pesquisa da Universidade de Princeton chegou à conclusão de que essa rede está em declínio e perderá 80% de seus usuários até 2017. O mais curioso é que o estudo usa o “modelo epidemiológico”, ou seja, trata o hábito ou mania como uma infecção, que se adquire por contágio, pelo contato com outras pessoas. Ou seja, como uma doença.

Eu já desconfiava, pelo menos nos casos crônicos, mas não disse nada com medo de que o doente fosse eu.

Duas cenas chamaram a atenção no acidente com o trem que descarrilou no Rio na quinta-feira. A primeira foi a foto do secretário estadual de Transportes às gargalhadas, enquanto as pessoas, num sol de 50 graus, caminhavam desesperadas pelos trilhos em busca de condução alternativa. De que será que ele ria tanto?

A outra foi a declaração do presidente da SuperVia elogiando a “rapidez” com que o tráfego foi restabelecido: “Nosso pessoal está de parabéns.” Ele se referia ao fato de que os trens voltaram a circular 13 horas depois. Será que estava falando sério ou era para rir também?


Zuenir Ventura é jornalista.

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