domingo, 13 de abril de 2014

Linha férrea - Completo abandono

Desde o ano passado que os moradores da Cruz da Menina, Guindaste e Bairro dos Pereiros, nunca mais ouviram o apito do trem nem os velhos trilhos estremecerem perto de suas casas. É que os trens de passageiros e cargueiros há muito tempo que não se vê passando por ali. Por conta disso, é que a linha férrea como é do nosso conhecimento, está em completo abandono. Até mesmo a turma da conservação da estrada de ferro, melhor dizendo, os ferroviários, ou cassacos como antigamente eram chamados, sumiram. Não existe mais nada.
 
Os trilhos estão cobertos de matos. Uma vegetação espinhosa conhecida no sertão como “jurema”,está fechando o caminho de quem anda a pé por ali, ou faz caminhada no sentido do sítio “Lajedo” /Arruda Câmara. O cenário de abandono é muito visível como se vê nas fotografias. Na metade da década de 90, os trens de cargas ou cargueiros, entraram em decadência, dando lugar aos caminhões e carretas que trafegam diariamente pela BR-230 cortando os Estados de Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte, arrecadando assim mais impostos do que os trens. Talvez seja este o motivo de tanto desprezo e abandono. Os trens de cargas que passavam duas vezes por semana transportavam cargas de diversas naturezas, como gado, pedras de minério, ferro, sisal, gasolina, açúcar, farinha, óleo de oiticica, e algodão, quando este produto tornou-se importante cultura de exportação. O algodão era levado para o porto de Cabedelo, em seguida para São Paulo e Estados Unidos. Tudo era transportado de Trem. O transporte era mais barato e mais seguro.
A linha e Estação do Trem em Pombal foram inauguradas todas no mesmo dia: 24 de outubro de 1932 pela R.V.C. (Rede de Viação Cearense), que foi de 1932 a 1958. Depois veio a R.F.N (Rede Ferroviária do Nordeste) – 1958 a 1975; daí em diante a RFFSA, ( Rede Ferroviária Federal S.A.), que controlava os trechos Sousa/Pombal/Patos/Campina Grande . Em Pombal ainda existem e bem conservadas a Estação do Trem e casa do Chefe da Estação ( o agente )marco que divide em toda a sua extensão o Bairro dos Pereiros do centro da cidade.
 
Até o final de 1958 o trem de passageiros tinha a seguinte composição: uma LOCOMOTIVA “Maria Fumaça”,ligado a esta, um depósito de lenha a céu aberto para abastecer a caldeira; um VAGÃO para transportar bagagens; dois vagões de primeira classe com poltronas estofadas, bem confortáveis, onde só viajavam pessoas de boas condições financeiras, por isso as passagens eram mais caras. Colado a estes dois, um carro RESTAURANTE, onde servia café da manhã, almoço e janta. Em seguida mais dois vagões de segunda classe, destinados as pessoas pobres, e, um último VAGÃO, o de terceira classe, em vez de poltronas estofadas, eram feitas de madeira comum, sem nenhum conforto, viajavam cegos, aleijados, pedintes, pessoas paupérrima mesmo. Lembro-me bem, que quando este último vagão passava pela estação, já em velocidade, os moleques davam vaias, atiravam pedras e jogavam terra. Como vingança, aquela pobre gente fazia gestos obscenos para os moleques que gritavam ainda mais alto. O último trem de passageiros foi o Asa Branca (mais moderno e mais rápido). Saía de Recife com destino a Fortaleza Ceará e vice-versa.
Os trens deixaram muitas saudades. Doces lembranças. A dona de casa Maria Alacoc, de 70 anos que mora há menos de 50 metros da Estação, recorda emocionada do tempo em que vendia água durante a passagem do trem, num recipiente de barro chamado“quartinha”. Ela sempre estava atenta à chegada do trem. Era um copo de alumínio prá todo mundo, não existia copo descartável, ninguém reclamava, ninguém dizia nada, queria era ser atendido primeiro, disse ela. Às vezes o trem já tinha dado o apito de partida e eu estava lá atendendo apressadamente um freguês que me pedia água. O pior de tudo, era que naquela correria o trem dava partida e aparecia um freguês mau caráter além de não pagar a água, ainda carregava o meu copo de alumínio. Mesmo assim eu era feliz, muito feliz, conta com os olhos marejados. Hoje, eu Lamento e entristeço ao ver a ferrovia abandonada, coberta de mato e de lixo. Nunca mais ouvi o apito do trem, desabafa dona Alacoc.
 
ERA UMA FESTA a passagem do trem em Pombal. A estação ferroviária estava sempre cheia de gente nos dias de segundas, quartas e sextas-feiras à noite, onde mo movimento era maior. Dalí saía a paquera e o namoro. Era como se fosse uma pracinha em frente à igreja. Antes de o trem chegar, as mocinhas ficavam dando voltas ao redor da Estação, enquanto a Difusora de Afonso Mouta, que ficava bem próximo Dalí, tocava incessantemente o último sucesso de Cauby Peixoto:”Nono Mandamento”. Um sino de bronze chamado “sineta” anunciava que o trem estava para chegar.
 
Quando se ouvia o apito do trem antes da curva da Brasil Oiticica, era o sinal de que o mesmo já estava muito perto. A emoção tomava conta daquela juventude, mesmo sabendo que o trem demorava pouco na estação. Tudo era rápido. Mesmo assim compensava esperá-lo.
 
Hoje só resta a lembrança do que foi bom! Agora nada mais existe. Como já disse em outro artigo: SÓ NA LEMBRAÇA É QUE SE PODE VOLTAR.
Pombal, 09 de abril de 2014.


Genival Severo
Radialista
 
Todos os créditos para o blog do Clemildo Brunet

Um comentário:

Anônimo disse...

O que acontece nessa parte da Região Nordestina, está existindo em toda a malha ferroviária do Nordeste e, aqui em Pernambuco, o descaso é total: estações em ruína ou ocupada irregularmente como residência, lan-House e outras; os prefeitos quando resolvem ajudar e recuperam uma delas as transformam em museus ou secretarias municipais; tilhos cobertos de mato ou arrancados ou ainda tomados por construções sobre o leito da via férrea(em Caruaru, Bezerros e Gravatá está assim); vagões de passageiros e carga, além de locomotivas sucateados e transformados em ferro velho, sem quaisquer serventias e tudo isso à vista das autoridades e, principalmente da concessionária TRANSNORDESTINA LOGÍSTICA S.A. ou da entidade responsável pela fiscalização dos contratos de concessão - a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Como diria o Boris: ISSO É UMA VERGONHA...
Jeová Barboza de Lira Cavalcanti - Timbaúba (PE)