quinta-feira, 24 de abril de 2014

Quando ela tarda e falha

Bernardo
 
Se o assassinato do garoto Bernardo causou revolta pelo envolvimento do pai, da madrasta e da amiga do casal, principais suspeitos, também causou estranheza a inação da Justiça, que poderia ter evitado o crime se tivesse dado ouvido às denúncias da própria vítima.
 
Por duas vezes, o menino de 11 anos queixou-se da negligência do pai e pediu para morar com outra família. O Ministério Público chegou a encaminhá-lo à Justiça, que, no entanto, preferiu se sensibilizar com a promessa paterna de reatar os laços com o filho, dando-lhe uma segunda chance de convivência, em detrimento da avó, que pedia a guarda do neto.
 
Li duas declarações do juiz. Na primeira, ele lamentava ter sido “enganado”. Já, depois, disse que agira segundo sua “consciência” e não se sentia “responsável pela decisão”, pois partira do “pressuposto de que um pai não vai maltratar um filho”, como se a premissa não fosse discutível: há pais que não só maltratam os filhos como até os matam, o que tem acontecido desde que o mundo é mundo. Episódios de filicídio já aparecem na Bíblia, e a literatura policial e jurídica está repleta desse tipo de homicídio.
 
Essa história hedionda, que se passa numa pequena cidade do interior gaúcho, vem tendo repercussão nacional e apresenta aspectos nebulosos, como o suicídio da mãe do menino, em 2010, no interior da clínica médica do ex-marido, o pai de Bernardo, 72 horas antes de assinar o divórcio que lhe daria R$ 1,5 milhão e uma pensão de R$ 10 mil mensais.
 
Por isso e porque o adolescente teria direito a parte da herança da mãe e do pai, a polícia investiga a possível motivação financeira para o assassinato. A delegada ressalta a frieza dos dois suspeitos, o médico e sua atual mulher, que passaram a noite numa festa no dia seguinte à morte, “muito alegres, dando risadas e bebendo espumante”.
 
 
Leia a íntegra clicando aqui
 
 
Zuenir Ventura

O Globo

Nenhum comentário: