sexta-feira, 16 de maio de 2014

Cientistas propõem campanha para salvar o tatu-bola, mascote da Copa

Grupo cobra envolvimento da Fifa com questões ambientais.Proposta inclui criar área de preservação ambiental a cada gol marcado

Até o momento, a Copa do Mundo não ajudou seu mascote Fuleco, um tatu-bola, a fugir do risco de extinção. Essa é a opinião de cientistas que lançaram, este mês, uma campanha que pede que a Fifa se comprometa a adotar ações de conservação mais efetivas. A proposta foi descrita em um artigo publicado na revista "Biotropica: The journal of Tropical Biology and Conservation".

Os pesquisadores que assinam o artigo querem que cada gol marcado no Mundial, que será disputado em 12 cidades brasileiras entre 12 de junho e 13 de julho, se transforme em mais proteção para o animal. De acordo com a proposta, a Fifa e o governo devem garantir que, a cada gol marcado na Copa do Mundo, mil hectares da Caatinga sejam transformados em área de preservação ambiental. A Caatinga é um dos biomas onde vive o tatu-bola.

O tatu-bola é um animal curioso de 50 centímetros que, quando sente a aproximação do perigo, se recolhe e, com sua dura carapaça, forma uma bola perfeita. Daí a sua escolha como mascote do Mundial.

A caça e a destruição de da Caatinga são as principais ameaças à sobrevivência do animal. A ONG Associação Caatinga propôs à FIFA que adotasse o tatu-bola como mascote convencida de que o Brasil, um país de rica biodiversidade, deveria vincular a Copa do Mundo ao meio ambiente e aproveitar o evento para proteger espécies e ecossistemas em risco.

Mais de 1,7 milhão de pessoas votaram para escolher o nome do pequeno tatu, que pesa menos de um quilo e se alimenta de formigas, raízes e frutas. "Fuleco", combinação das palavras "futebol" e "ecologia", foi o escolhido.

Mas, até agora, "Fuleco não usou nenhum discurso ambiental e não diz que está em risco de extinção. Muitos nem sabem que Fuleco é um tatu, nem mesmo aqui na Caatinga, de onde o animal é originário", explicou à AFP Rodrigo Castro, presidente da Associação Caatinga.

"A FIFA autoriza empresas a vender produtos com Fuleco, inclusive um milhão de pelúcias [produzidas na China], mas nenhuma parte desse dinheiro vai para a proteção da espécie", afirmou.

"Ter escolhido Fuleco como mascote oficial ajudou a aumentar a consciência no Brasil sobre o tatu-bola e seu status de espécie vulnerável", afirmou a Fifa em um comunicado enviado à AFP, no qual indica que o mascote não está sendo "usado para promover mensagens ambientais específicas".

Gols para o tatu-bola

"Queremos que a escolha do tatu-bola como mascote do Mundial não seja apenas simbólica, mas contribua efetivamente para a conservação desta espécie tão carismática e de seu ambiente', afirmou José Alves Siqueira, professor da Universidade Federal do Vale de São Francisco (Univasf), no artigo publicado na revista "Biotropica".

O governo brasileiro tem boas notícias para o tatu. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, está previsto o lançamento de um plano com metas específicas para a preservação da espécie. "Sem a Copa do Mundo, certamente isto não teria ocorrido", disse Castro.

Uma patrocinadora do Mundial, a filial brasileira da empresa alemã fabricante de pneus Continental, aderiu à campanha a favor do tatu.

A Caatinga, que mantêm aproximadamente 50% de sua cobertura vegetal, é o habitat de outras espécies emblemáticas e ameaçadas que poderiam se beneficiar desta proteção, como a onça e a jaguatirica.

O tatu-bola - cujo nome científico é Tolypeutes tricinctus, em alusão às três faixas que permitem que sua carapaça se encaixe em forma de bola - é "a única espécie de tatu endêmico do Brasil", além de ser a menor e menos conhecida, segundo o Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção.

"O tatu-bola não cava buracos, e suas únicas estratégias de defesa são a fuga e se recolher sob sua carapaça, mas mesmo correndo em fuga, pode ser alcançado facilmente por uma pessoa e, quando se enrola [uma posição que pode manter por 20 ou 30 minutos], pode ser agarrado sem riscos para quem o caça", diz o Livro Vermelho.


Fonte: G1

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