sábado, 26 de setembro de 2015

Homo

 
Nenhum de vós ao certo me conhece,
Astros do espaço, ramos do arvoredo,
Nenhum adivinhou o meu segredo,
Nenhum interpretou a minha prece...


Ninguem sabe quem sou... e mais, parece
Que ha dez mil annos já, neste degredo,
Me vê passar o mar, vê-me o rochedo
E me contempla a aurora que alvorece...


Sou um parto da Terra monstruoso;
Do humus primitivo e tenebroso
Geração casual, sem pae nem mãe...


Mixto infeliz de trevas e de brilho,
Sou talvez Satanaz;—talvez um filho
Bastardo de Jehová;—talvez ninguem!


(PORTO — IMPRENSA PORTUGUEZA MDCCCLXXX)


Nota: mantida a escrita original.


Antero Tarquínio de Quental

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