sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

As ideias simples

Infelizmente, as ideias simples ganham força em todo o mundo. E o pior é que os próprios meios de combatê-las ficam cada vez mais infectados por elas
As ideias simples são sedutoras. São soluções ou explicações fáceis para questões complexas, e seu principal atrativo é que nos eximem de pensar. Agora mesmo o candidato a candidato do Partido Republicano nas próximas eleições presidenciais nos Estados Unidos Donald Trump teve uma ideia exemplar na sua simplicidade.

Admira que ninguém a tenha tido antes. Como nunca se sabe se o muçulmano que chega aos Estados Unidos vai se comportar ou vai sair matando americanos, Trump propõe — simplesmente — que se proíba a entrada de muçulmanos no país. À Estátua da Liberdade — que, na entrada do Porto de Nova York, simboliza a acolhida indiscriminada que os Estados Unidos sempre deram a imigrantes e visitantes — só restaria guardar sua tocha e ir para casa.

Dizem que, com a eleição de Trump, pela primeira vez o país, que já teve na Presidência todo tipo de gente, de líderes legítimos a escroques confessos, terá eleito uma piada. Mas a piada perde a graça quando se sabe que Trump lidera a tropa de candidatos republicanos em todas as pesquisas de intenção de votos.


Ideia simples, também, é que basta extrair a Dilma, como um foco infeccioso, do governo e tudo melhorará. Como não há razão jurídica para depor a Dilma — opinião não minha, um perigoso bolchevique, mas de vários juristas respeitados —, o impedimento da presidente passa a ser apenas uma obsessão, ou uma ideia simples fixa.

A baixa popularidade da Dilma e o índice de aprovação do seu governo lá em baixo seriam razões não jurídicas para derrubá-la. Mas isto seria um mau precedente. O Brasil, com sua mania de criar moda (só no Brasil alguém poderia dizer que fundos na Suíça e contas na Suíça são duas coisas completamente diferentes e continuar presidindo a Câmara), estaria inventando o governo por pesquisa de opinião.

Cotação muito baixa nas pesquisas — rua! Um péssimo precedente. Não esqueçamos que, pelo critério da popularidade, o Fernando Henrique não teria sobrevivido até o fim do seu mandato.
Ideias simples também comandam o terrorismo mundial: o que pode ser mais basicamente irracional, mais antidiplomático e intolerante — enfim, menos complicado — do que explodir tudo à sua volta, e a você mesmo, por uma causa ou um deus?

Infelizmente, as ideias simples ganham força em todo o mundo. E o pior é que os próprios meios de combatê-las ficam cada vez mais infectados por elas. Nos Estados Unidos, estão dizendo que Trump só teve a coragem de falar o que muita gente pensa mas não fala.

Luis Fernando Veríssimo
Do Blog do Noblat

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