quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

O pobre, o câncer e a lei

Em vigor desde 2012, a Lei 12.732, que garante aos pacientes portadores de câncer o início do tratamento em no máximo 60 dias após a inclusão da doença em seu prontuário, no Sistema Único de Saúde (SUS), não vem resolvendo a questão preferencial do atendimento aos mais necessitados. A fila de espera pelo tratamento ainda é grande e isso tem minorado as forças de quem mais precisa.

Segundo a Lei, o Estado tem o prazo máximo de 60 dias para assegurar o início do tratamento de pacientes portadores de câncer pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Se o caso for grave, o prazo pode ser menor, é o que estipula o texto legal já promulgado.

Numa primeira e ligeira análise, ao que parece e ao que salta aos olhos, é que os graves problemas que assolam a saúde do país aguardam tão somente a normatização legal dos prazos para os procedimentos de saúde.

O Estado brasileiro continua insistindo em tentar resolver suas inquietudes e desgovernanças com a adoção de medidas popularescas, editando leis que já nascem mortas e impraticáveis, dissociadas dos verdadeiros reclames sociais frente ao caos que já tomou contou da saúde do país, ora impulsionado pela irresponsável falta de investimentos estruturantes no setor, ora empurrado pela incompetência gerencial e pela corrupção incrustada na saúde pública e em todas as esferas do poder.

É óbvio que a problemática da saúde nesse país não é uma questão de mera lacuna legal.

Concluir que por decreto ou lei se resolve o drama vivido pelos hospitais públicos e pelos doentes de câncer, representa, no mínimo, um atentado a inteligência do povo e um golpe contra a esperança de quem espera há seis meses por uma consulta ou um tratamento oncológico.

A própria construção textual da mencionada lei, em dado momento, parece “especular” com a expectativa de vida desses pacientes. Prevê o texto que se o caso for grave, o prazo para o início do tratamento pode ser inferior a 60 dias. Ora, o puro e simples diagnóstico de câncer já é, por si só, extremamente grave! Reclamando pronta e imediata intervenção médica especializada.

Salta-me dispendioso ter que aduzir que o combate ao câncer é uma luta diária e contra o tempo. Quanto mais se antecipa o início do tratamento maior é a chance de vencer a enfermidade. Não muito raramente, temos igualmente notícia de muitos sucessos contra esse mal, sobretudo com relação àqueles que têm um bom plano de saúde ou condições econômicas favoráveis de se submeter aos mais modernos e precoces tratamentos.

Entrementes, para a maior parcela da população, para o “povo da Silva”, talvez como único sustentáculo de esperança nessa luta inglória, há de sobrar, quem sabe, a letra fria da lei.

Quiçá, tudo fosse diferente nesse Brasil de brasileiros e brasileiras. 

Teófilo Júnior

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