sábado, 16 de abril de 2016

José Eduardo Agualusa na shortlist do Man Booker International com Ferrante e Pamuk

O escritor angolano José Eduardo Agualusa vai competir com Elena Ferrante e Orhan Pamuk para o Man Booker Internacional, prêmio literário britânico que consagra o que de melhor se faz na ficção a nível mundial. Acaba de passar para a shortlist.

Depois de ter sido incluído na longlist de 13 finalistas, em março, um ano depois de o mesmo ter acontecido a Mia Couto, Agualusa passa agora ao grupo de seis finalistas deste prêmio no valor de 60 mil euros (a dividir com o tradutor da obra escolhida): Teoria Geral do Esquecimento (D. Quixote, 2012, que já lhe valeu em Portugal o Prêmio Fernando Namora), História da Menina Perdida, de Elena Ferrante (pseudónimo), A Strangeness in My Mind, do turco, e prêmio Nobel, Orhan Pamuk, The Vegetarian de Han Kang, The Four Books de Yan Lianke, e A Whole Life de Robert Seethaler. Ou seja, histórias passadas durante a guerra civil em Angola, uma amizade feminina numa Nápoles controlada pela Camorra, a emancipação de uma dona de casa coreana, uma inventariação de personagens, acontecimentos, comida, objetos que sintetizam Istambul, as atrocidades maoístas, a grande fome na China em particular, e toda a vida de um homem nos Alpes austríacos.

É uma volta ao mundo e às fronteiras da ficção, segundo os jurados deste prêmio – júri, encabeçado por Boyd Tonkin, um dos redatores seniores do The Independent, e composto pela antropóloga e escritora Tahmina Anam, pela poeta Ruth Padel e pelos acadêmicos David Bellos e Daniel Medin. É uma lista variada e “entusiasmante”. O comunicado de imprensa reproduz uma declaração de Boyd Tonkin: “A nossa seleção mostra que os melhores livros traduzidos ultrapassam as fronteiras não só do nosso mundo mas da própria arte da ficção. Esperamos que os leitores de todas as partes do mundo partilhem o nosso prazer e excitação com esta shortlist.”

Os livros na corrida

No extenso comunicado de imprensa em que divulga a shortlist, a organização do Man Booker resume, assim, o livro de José Eduardo Agualusa, o autor de 55 anos nascido no Huambo que hoje vive entre Portugal, Angola e o Brasil: um “mosaico selvagem” que forma um romance que conta a história de Angola através de Ludo, uma mulher que decide barricar-se no seu apartamento nas vésperas da independência do país. Durante os 30 anos seguintes, Ludo não sai à rua, sobrevive alimentando-se de vegetais e pombos, e acompanha o que se passa no mundo exterior através da rádio e das conversas dos vizinhos. A rotina desta mulher é interrompida quando conhece Sabalu, um rapaz que decide trepar até ao seu terraço. “Com a imagem de marca do autor – sentido lúdico, humor e até afeto – Teoria Geral do Esquecimento é um romance deslumbrante, uma história humana sobre as emoções, a esperança e os perigos de uma mudança radical”, lê-se na nota de imprensa.

Daniel Hahn, que tem no seu currículo mais de 30 livros, de autores tão díspares como o Nobel português José Saramago e a estrela brasileira de futebol Pelé, é o tradutor da obra de Agualusa a concurso.

Na corrida está também Ferrante com o último volume dos seus romances de Nápoles, História da Menina Perdida (traduzido no Reino Unido por Ann Goldstein e publicado em Portugal pela Relógio d’Água), centrado na amizade entre duas mulheres muito diferentes – Elena e Lila – que crescem tentando escapar ao bairro onde vivem, “uma prisão de conformismo, violência e tabus invioláveis”. Passados uns anos em Florença, cidade em que formou família e publicou vários livros que foram bem recebidos, Elena regressa a Nápoles para ficar com o homem que sempre amou. Lila nunca se libertou da cidade, tornando-se uma peça chave do sistema que inicialmente rejeitara. “Cada parágrafo brilha com inteligência”, garante o júri deste prêmio internacional, “cada capítulo traz uma surpresa: um verdadeiro banquete”.

The Vegetarian (tradução de Deborath Smith), da sul-coreana Han Kang, parte do dia-a-dia monótono de um casal de classe média sem ambições que parece viver num estado “vegetativo” até que a mulher, Yeong-hye, decide cometer um acto doméstico de rebelião – torna-se vegetariana. A pouco e pouco, as suas atitudes revelam-se bizarras e Yeong-hye fantasia transformar-se numa árvore. “Perturbadora” e “bela”, garante a organização do Booker International, The Vegetarian é uma obra sobre a Coreia do Sul contemporânea, mas é também um romance sobre a “estranheza”, “a vergonha, o desejo, e as nossas tentativas frágeis para compreender os outros, de um corpo aprisionado para outro”.

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