sábado, 28 de maio de 2016

15 Filmes Sobre a Filosofia de Foucault que Você Precisa Conhecer

Por Philippe Torres

Obviamente alguns dos filmes aqui listados foram feitos antes do pensamento Foucaultiano. Contudo, em nossa lista se encontrarão filmes em que é possível perceber sua filosofia. 

Foucault, filosofo muito influenciado pelas obras de Nietzsche, nos fará pensar no homem quando se percebe como louco, quando se olha como doente, quando reflete sobre si mesmo como ser vivo, ser falante e ser trabalhador, quando se julga e se pune quando criminoso, e quando se reconhece como ser do desejo. Apesar de muito extensa e aparentemente desconexa, a  obra do autor liga-se em todos esses pontos.
 
Investigando a estrutura do pensar, Foucault dizia-se um arqueólogo do saber. Dessa forma, a verdade para este está relacionada ao seu tempo, mudando completamente a episteme científica. Até mesmo sua afirmação está vinculada a uma verdade da época, a teoria da relatividade acabara de ser explanada. Sendo assim, a ideia de que a ciência é uma escada evolutiva cai, dando lugar aos desvios.
 
A loucura não é um fato biológico, esta é um fato cultural. Ao dizer isso, a partir da sua episteme histórica, Foucault porá por terra a relação da loucura com a medicina. Pensando históricamente seria possível perceber que esta é produto de seu tempo, classificações, e apenas não consideramos a loucura de nosso tempo como tal por essa ser nossa verdade.
 
“Toda a história dos inícios da psiquiatria moderna se revela falseada por uma ilusão retroativa segundo a qual a loucura já estava dada p ainda que de maneira imperceptível – na natureza humana”
 
A loucura, então, não é algo da natureza ou uma doença, mas um fato cultural. A história da loucura, em suma, é a história da progressiva medicalização da loucura no pensamento ocidental.
 
A partir daí, o pensador trará a história da loucura em quatro momentos:
 
A História da loucura na Idade Média é
retratada em O Incrível Exército de Brancaleone
No primeiro momento, temos a Idade Média. Nessa época, o louco era tratado como um visionário. Até mesmo ao pensar a história de Jesus Cristo (sabemos que não se trata da Idade Média), homem que diz ser filho de deus, foi tratado como um profeta. Hoje, seria um louco, produto do tempo. O mesmo acontece com o filme “O Incrível Exercito de Brancaleone”, onde há um homem visionário, missionário que conclama os homens a ir a terra santa e matar os muçulmanos. Hoje, este não seria um visionário.

No segundo momento, o Renascimento. Aqui, a loucura é tratada como um saber exotérico, ou seja, um saber fechado que expõe a loucura da época. Não mais o louco é tratado como um visionário, mas sim guiado por sua natureza íntima, pela paixão. Dom Quixote é exemplo claro.
 
No terceiro momento, Idade Clássica. Iniciada pela filosofia moderna de Descartes, aqui, a loucura é aquela que nos levaria ao erro, uma desrazão. O louco agora é o portador da não verdade, o homem sem a razão, como opostos. A filosofia para de escutar o louco. O louco passa a ser internado institucionalmente. “Nesse período, a loucura, antes sacralizada, é reduzida a um escândalo, um crime. Eram considerados loucos os mendigos, desocupados, homossexuais, vagabundos, devassos, bêbados e tudo que se desviava da “normalidade clássica”. Os loucos, então, são banidos da vida pública. Encarcerados e torturados em hospícios. Curiosamente, essas instituições serviam como entretenimento. Milhares de pessoas visitavam os hospícios para entreter-se com o louco, como um zoológico, o olhar ao diferente.
 
O quarto momento inicia-se no século XVIII. Aqui o louco já não era visto como um criminoso. O confinamento destes como uma barbárie, mas a loucura como uma doença individual. Cria-se o mito do “homem normal”, anterior à doença, estando o louco distante da normalidade. A partir desse momento, os loucos foram colocados sob cuidados médicos. Ao invés das controladoras correntes de ferro, remédios, tão opressivos quanto. Com a psicanalise o Louco agora pode falar, ao contrário do período anterior, mas é tratado como objeto de estudo, não como um ser coberto de razão. O louco continua a ser vigiado e confinado pela razão. Os médicos, serão a autoridade que atua sobre os loucos, ditam o Poder da razão em confinar a loucura. “a linguagem da psiquiatria, que é um monólogo da razão sobre a loucura, só pôde estabelecer-se sobre um tal silêncio.”. Apesar da falsa e proposital ideia de que o louco passa a falar ao psicanalista, o que vemos é a razão exercendo poder sobre a loucura, como se a tudo que o louco estivesse falando houvesse o julgamento da razão. Um julgamento moral. Superar a autoridade psiquiátrica seria superar a razão. Para Foucault, apenas alguns artistas conseguiram tal feito.
 
Outro pensamento do autor está ligado a normatização. Para ele, na sociedade moderna, o domínio que exerce o poder não é a lei, mas sim a norma, produzindo condutas, gestos e o próprio indivíduo. Pergunta-se: O quanto sente-se oprimido pela lei? Por outro lado, quanto sente-se oprimido pela norma? Por ser julgado por atos anormais? Sendo assim, o poder tem por alvo a regulação da vida dos indivíduos através do poder disciplinar e biopolítico.Trata-se do poder disciplinar aquele que busca aumentar o efeito útil do tempo/trabalho. Agindo sobre o humano, este poder exerce a arte da distribuição espacial afim de receber melhores resultados, já que distribuídos os homens mais fácil o controle dos mesmos. O controle sobre o desenvolvimento da ação, não apenas do resultado, fato que está intimamente ligado a distribuição espacial. Vigilância constante que permitam o melhor aproveitamento do tempo útil e garantir a disciplina. O registro contínuo, para que todas as informações cheguem ao cume da pirâmide, aos olhos que tudo veem.
Em O Clube dos Cinco é possível
ver o processo de normatização
e vigilânciana escola.
É mais comum pensar em tal normatização na vida trabalhista, mas ela está em todos os momentos do homem. Pense na distribuição espacial escolar, organizada como efeito de controle dos alunos: os corredores, o pátio, a sala de aula onde os alunos voltam-se enfileirados ao mestre de sala, hierarquicamente. Perceba que não apenas os resultados são controlados na escola, mas também o valor da ação, onde o melhor é premiado e o pior serve de chacota à normatização promovida pelos que não sentem ser também vítimas dela, os demais alunos. A vigilância é constante, promovida desde a sala de aula, pelo professor, ao topo da pirâmide, a direção, garantindo a disciplina. E o registro contínuo que garante todas as informações dos alunos. Foucault diria, então, que a escola funcionaria como o exército, hospitais e prisões, outros exemplos do pensador para explicar a temática. A esses poderes são chamados de “microfísica do poder”.

À normatização Foucault explicitará outro de seus temas, a história da punição. Dirá que antes do século XVIII o criminoso era punido em praça pública, aos olhos dos demais para que se obtivesse a disciplina. Após o século mencionado muda-se o modelo. O aprisionamento torna-se o método, o instrumento. Ao invés de esquartejar o corpo, este passa a ser objeto de controle da sociedade. O corpo passa a ser sujeito ao poder.

As penas passam a ser supostamente proporcionais aos atos criminosos, tornando-se “ato administrativo do Estado”. O direito de punir desloca-se da vingança do soberano à uma também suposta defesa da sociedade. Normatizando a ideia de humanização das penas.

Para nosso pensador em questão não trata-se de humanização, e sim uma estratégia de remanejamento do poder de punir a fim de aumentar seus efeitos, diminuindo seus custos econômicos e político, principalmente. O sistema penal que se forma é consequência da sociedade reguladora e disciplinada que estava começando a surgir. Sendo assim diria ele:
 
Essa vigilância funcionaria como um panóptico, onde há a função de “induzir no detento um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o funcionamento automático do poder. Fazer com que a vigilância seja permanente em seus efeitos, mesmo se é descontínua em sua ação (…) o sucesso do poder disciplinar se deve sem dúvida ao uso de instrumentos simples: o olhar hierárquico, a sanção normalizadora e sua combinação com o exame.”. Em outras palavras, há sempre a impressão de vigilância sobre o vigiado, mesmo que não esteja sendo feita regularmente mas que, através da punição e normatização das condutas, cria a impressão de um suposto olho que tudo vê. Como se dentro de nós houvesse o ser vigilante, controlando-nos.
Ufa, vamos a lista !

– Laranja Mecânica



Em uma desolada Inglaterra do futuro, a violência das gangues juvenis impera, provocando um clima de terror.
Alex (Malcolm McDowell) lidera uma das gangues e, após praticar vários crimes, é preso e submetido à reeducação pelo Estado, com base em uma técnica de reflexos condicionados.
Quando ele volta à sua vida em liberdade, é perseguido por aqueles que foram suas vítimas, Mr. Alexander (Patrick Magee) e sua esposa.

Direção: Stanley Kubrick
Ano: 1971
País: Reino Unido
 
– Um Estranho no Ninho


Randle Patrick McMurphy, um prisioneiro, simula estar insano para não trabalhar e vai para uma instituição para doentes mentais, onde estimula os internos a se revoltarem contra as rígidas normas impostas pela enfermeira-chefe Ratched, mas ele não tem ideia do preço que irá pagar por desafiar uma clínica “especializada”.

Direção: Milos Forman
Ano: 1976
País: E.U.A
 
– Os Incompreendidos


Os Incompreendidos (Les quatre cents coups) é um filme francês de 1959, do gênero drama, dirigido por François Truffaut. O filme narra a história do jovem parisiense Antoine Doinel, um garoto de 14 anos que se rebela contra o autoritarismo na escola e o desprezo dos pais Gilberte e Julien Doinel. Rejeitado, Doinel passa a faltar as aulas para freqüentar cinemas ou brincar com os amigos, principalmente René. Com o passar do tempo, as censuras o direcionarão, vivenciará descobertas e cometerá delitos em busca de atenção.

Direção: François Truffaut
Ano: 1959
País: França
 
– Eu Sou um Cyborg, Mas Tudo Bem …


Cha Young-goon (Lim Su-Jeong) é hospitalizada numa clínica psiquiátrica, por acreditar que é uma ciborgue. Ela recusa toda a comida que lhe oferecem, preferindo carregar as “baterias” através de um transistor. Cha usa a dentadura da avó e fala com todos os aparelhos eletrônicos. Mas seu caso não é o único: ela está rodeada de pacientes que têm interlocutores imaginários. Quando o belo e anti-social Park Il-Soon (Rain) é internado, tudo muda para ela. Não leva muito tempo para que eles se envolvam, mas a saúde da menina piora cada vez mais.

Direção: Chan Wook Park
Ano: 2006
País: Coréia do Sul
 
– O Gabinete do Dr. Caligari


Num pequeno vilarejo da fronteira holandesa, um misterioso hipnotizador, Dr. Caligari (Krauss), chega acompanhado do sonâmbulo Cesare (Veidit) que, supostamente, estaria adormecido por 23 anos. À noite, Cesare perambula pela cidade, concretizando as previsões funestas do seu mestre, o Dr. Caligari

Direção: Robert Wiene
Ano: 1920
País: Alemanha
 
– Uma Página de Loucura


O filme conta a história de um marinheiro que se emprega como faxineiro em um manicômio para libertar sua esposa, que fora internada após uma tentativa de suicídio depois de ter afogado seu filho. Sem o uso de intertítulos e através de um sequência impressionante de imagens, é apresentada uma visão do mundo pelos olhos dos doentes mentais. Dado como perdido por mais de 40 anos, o filme foi recuperado pelo diretor em 1971, por uma cópia encontrada escondida em um vaso no galpão de seu jardim.

Direção: Teinosuke Kinugasa
Ano: 1926
País: Japão
 
– O Incrível Exército de Brancaleone


No ano 1.000 D.C., um bravo cavaleiro parte da França para tomar posse de suas terras. No caminho, ele é assaltado e assassinado por um bando de foras-da-lei que, de posse da escritura, decidem pegar por si o terreno. Para isso, eles precisam de alguém que finja ser o cavaleiro e acabam encontrando a pessoa perfeita no atrapalhado Brancaleone de Nórcia. Começa aí uma longa jornada, onde Brancaleone e seus homens enfrentam os mais diversos perigos.

Direção: Mario Monicelli
Ano: 1966
País: Itália

– 1984



Winston Smith (John Hurt) é uma figura trágica que se atreveu a se apaixonar numa sociedade totalitária onde as emoções são ilegais.

Direção: Michael Radford
Ano: 1984
País: Reino Unido

– A Caça


Lucas acaba de dar entrada em seu divórcio. Ele tem um novo emprego na creche local, uma nova namorada e está ansioso pela visita de natal de seu filho, Marcus. Mas o espírito de natal desaparece quando Klara, uma aluna de cinco anos de idade, faz uma acusação de abuso sexual contra Lucas, o que desencadeia o ódio de toda a comunidade em que ele vive.

Direção: Thomas Vintterberg
Ano: 2012
País: Dinamarca

– Clube dos Cinco


Em virtude de terem cometido pequenos delitos, cinco adolescentes são confinados no colégio em um sábado, tendo de escrever uma redação de mil palavras sobre o que eles pensam de si mesmos. Apesar de serem pessoas bem diferentes, enquanto o dia transcorre passam a aceitar uns aos outros e várias confissões são feitas entre eles.

Direção: John Hughes
Ano: 1985
País: E.U.A

– Metropolis


O ano é 2026, a população mundial se divide em duas classes: a elite dominante e a classe operaria; esta condenada desde a infância a habitar os subsolos, escravos das monstruosas máquinas que controlam a metrópolis. Quando o filho do criador de Metrópolis se apaixona por Maria, a líder dos operários, tem inicio a mais simbólica luta de classe já registrada pelo cinema.


Direção: Fritz Lang
Ano: 1927
País: Alemanha


– As Pequenas Margaridas


Utilizando-se de avançados efeitos especiais para a época, Vera Chytilová dirigiu esta obra surrealista que conta a história de duas garotas chamadas Marie, que decidem se adequar ao mundo como ele está: sendo depravadas. Portanto, ambas partem para uma série de encontros forjados e travessuras, desconstruindo o mundo ao seu redor.

Direção: Vera Chytilová
Ano: 1966
País: Tchecoslováquia


– Ensaio de Orquestra


Numa capela romana, agora um oratório, músico, chegam para um ensaio, Eles são avisados que estão sendo gravados por uma rede de TV. Então o maestro alemão chega, impondo ordem aos gritos. Durante um breve intervalo o maestro concede uma entrevista aos jornalista. Quando volta , encontra sua orquestra em estado de revolta. Será o fim? 0 que os trará de volta à música? Ensaio de orquestra é a homenagem do mestre Federico Fellinni à arte da música, uma das paixões de sua vida. Fundamental tanto para músicos como para cinéfilos, o filme traz a última das muitas trilhas sonoras que o genial Nino Rota compôs para Fellini.

Direção: Federico Fellini
Ano: 1979
País: Itália


– KES


Um dos primeiros filmes da carreira do consagrado diretor Ken Loach, Kes conta a história de um menino que vive em bairro pobre da cidade que, violentado em casa e ridicularizado na escola, acha uma forma de abstrair de sua dura realidade treinando um falcão. Poética e singela obra de formação do cineasta que posteriormente realizou obras-primas como Terra e Liberdade e Pão e Rosas.

Direção: Ken Loach
Ano: 1969
País: Reino Unido


– M, O Vampíro de Dusseldorf


Um misterioso infanticida leva o terror a Dusseldorf. A polícia local não consegue capturar o serial killer então um grupo de foras-da-lei se une para encontrar o assassino. Capturado pelos marginais, ele é julgado por um tribunal de criminosos e é acusado de ter quebrado a ética do submundo.


Direção: Fritz Lang
Ano: 1931
País: Alemanha

Fonte: aqui

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