sábado, 26 de novembro de 2016

Repentes

Existe quem diga que as lindas sereias São fatos, são lendas que nunca existiram Mas esses só dizem porque nunca viram Morenas bonitas nas alvas areias Maiôs sungadinhos, perninhas bem cheias Que um frade de pedra não vê sem corar As pontas agudas roliças de um par De seios pulando num colo maciço São pomos formados de puro feitiço Quem é que resiste na beira do mar.

Dimas Batista  

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Bebi muita água de pote Aparada na biqueira Envolta um pano molhado Num gancho”véi”de aroeira Era muito mais gostosa Que água de geladeira.

Marcondes Tavares  

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Assim que fecha a contagem
Tem candidato que diz:
– O filho de Zé Luiz
Não tá na minha listagem.
Como é que teve a coragem
De apertar minha mão,
Pedir chuteira e calção
E o voto não aparece.
Só comigo isso acontece
Quando acaba a apuração.

Aquele que se elegeu
Bota o som em toda altura
Abalando a estrutura
Daquele que não venceu.
E o infeliz que perdeu
Fica na decepção
Sofrendo do coração
Com cara de estressado.
E ainda fica quebrado
Quando acaba a apuração.

O candidato arrasado
Um gozador lhe aborda
Vai logo falando em corda
Em casa de enforcado.
O infeliz derrotado
Com a listagem na mão
Soma seção por seção
Pra confirmar o tormento.
É esse o pior momento
Quando acaba a apuração.

É o maior carnaval
Na casa do vencedor,
Na casa do perdedor
Uma tristeza total.
Chega um cabo eleitoral
Com uma conta na mão,
De bebida e refeição
Consumida pelo povo.
E não sobra nem um ovo
Quando acaba a apuração.

Mundim do Vale

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Lourival Batista um dos maiores repentistas da época, considerado o rei do trocadilho, cantava com João Furiba em Afogados da Ingazeira/PE criticou Furiba porque se fazia acompanhar de sua esposa, terminando uma estância:

“Não gosto do homem que anda
 Com a mulher por toda sua.”

A resposta do João Mentira foi extraordinária, que eu o coloco entre os gênios do repente.

“Pra não fazer como a tua
 Que fica em casa sozinha,
 Entra homem pela sala,
 Sai homem pela cozinha,
 Eu como sou desconfiado
 Pra onde vou, levo a minha.”

Ivanildo Vila Nova herdara do pai José Faustino e era um verdadeiro assombro para os repentistas da região. Seu verso, às vezes, era massacrante contra adversários. Enfrentando João Furiba o desafiou:

“Já estou ficando velho
 De dar em cantor ruim.”

Furiba rápido como um relâmpago, sapecou:

“Teu pai também era assim
 E se dizia professor,
Tudo que lia decorava,
 Usava anel de doutor,
 Cantou trinta e cinco anos,
             Morreu sem ser cantador.”

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