quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Demitindo o deputado

Acho que em consequência desse “amor infinito” que nutro pelos políticos corruptos, fui convidado para uma reunião onde alguns militantes das redes sociais pretendiam fundar uma associação nacional destinada a modificar o sistema político brasileiro. Como cheguei depois do horário, imaginei que nem teria onde sentar, porque o local deveria estar apinhado de revolucionários.

Qual o quê! Eram 4 cidadãos dotados da maior boa vontade, recheados de patriotismo e absolutamente desligados da nossa realidade. Um deles, com uma camiseta onde aparecia o rosto de Che Guevara usando orelhas de Mickey Mouse estava propondo a ideia geral do movimento; nada mais, nada menos, do que demitir os políticos que não correspondessem às expectativas dos eleitores.

Ele explicou que a demissão era a única figura jurídica que se aplicava porque para um político ter seu mandato cassado, sempre dependerá do Judiciário, e no caso, além de demorado, esse processo não permite que os eleitores tenham qualquer participação.

Funcionaria assim; através de uma reforma constitucional, o voto que é secreto poderia opcionalmente ser identificado pelos eleitores que assim o desejassem. Ou seja, o eleitor optaria na hora de votar pelo sigilo do seu voto ou pela identificação do mesmo. Depois de votar, se tivesse optado pelo voto aberto, o eleitor receberia um papel onde ele estaria identificado, bem como todos os candidatos nos quais votara.

Isso serviria a dois propósitos; o primeiro deles era confirmar se aquela urna fora fraudada, porque haveria como provar que o voto dado a seus candidatos não aparecera no resultado oficial, acabando de vez com aquela desculpa de que o eleitor se confundira na hora de votar.

O segundo e principal propósito seria o de permitir que quando a maioria dos eleitores que votaram em determinado candidato não concordassem mais com seus encaminhamentos políticos, simplesmente juntariam a prova de que votaram nele e o demitiriam do mandato, “que afinal é nosso, sendo ele somente nosso representante”, disse o rapaz.

E por aí foi a conversa até que me perguntaram o que achava. “- Eu acho é graça, porque no dia que vocês conseguirem convencer os Deputados e Senadores a votarem algo contra seus interesses, como é o caso desse projeto, vai estar bem pertinho do Sargento Garcia prender o Zorro”.

Fui expulso do recinto.
 
 
Marcos Pires
Correio da Paraiba 

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