sexta-feira, 10 de novembro de 2017

La Fiorentina

Quando meus pais eram milionários, morei alguns anos no Rio de Janeiro onde estudei economia na PUC. Frequentava o Fiorentina só para ver os artistas e músicos que jantavam ali. Semana passada voltei lá e relembrei com antigos amigos cariocas algumas histórias maravilhosas.

Como por exemplo o caso de Ary Barroso, que uma noite chegou lá mais cedo e jactou-se de ter acabado de convencer uma freira a se encontrar com ele. Explicou que ela acabara de sair do convento depois de 5 anos para visitar a família pela primeira vez, e a encontrara pouco antes na av. Copacabana vendo vitrines. Mas estava preocupado com sua performance futura: “- Olha só, antigamente quando eu mijava as bolinhas de naftalina do banheiro pulavam de alegria. Hoje em dia elas nem se mexem”. Daniel Filho resolveu a parada. Deu a Ary uma pomada japonesa que comprara de um camelô que era tiro e queda. E lá se foi Ary para sua aventura...até a noite seguinte, quando voltou decepcionado. “- Ah, meus amigos, tanto a freira como a pomada eram falsificadas”.

Os amigos da mesa contaram que Norma Benguell (frequentadora assídua), no momento de filmar aquela antológica cena do filme “Os cafajestes”, onde produziu o primeiro nu no cinema nacional, menstruou e foi necessário entupi-la de algodão. Confessado por ela na mesa ao lado.

Mas o que mais me tocou foi a história de Rita Hayworth (lembram de “Gilda”?), uma das maiores atrizes americanas da época. Ela veio passar o carnaval no Rio de Janeiro e foi ficando, ficando, a ponto de já não ser mais uma sensação. Aliás, aqui no Brasil até o Papa, se demorar além da conta passa a ser um qualquer.

Pois bem, Rita começou a frequentar as noites do Fiorentina com assiduidade, e depois de algum tempo foi vista sozinha, numa noite chuvosa, esperando pacientemente na calçada por um taxi. Toda molhada. Nunca houve uma mulher tão solitária como ela naquela noite.

O Fiorentina continua o mesmo desde os anos 60. Mudaram-se os artistas e morreram os garçons do meu tempo. Pensando bem acho que os artistas que o frequentavam já devem ter morrido também.

Mas não esqueço de um favorito nosso, que morava no prédio ao lado, muito simpático e atencioso; Ted Boy Marino. Lembram dele?

Marcos Pires
Do blog do Tião

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