quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Virás, hoje?

Desejaria estender tapetes de púrpura
E desejaria, em toda a região
Encher de bálsamo extraído de pichéis de ouro
As lâmpadas das flores até acima.

E que todas ardessem o tempo suficiente
Para que, cegos pelo dia vermelho,
Nos reconhecêssemos na noite pálida
E a nossa alma se transformasse em estrela.

Ó generosa, tu dás sonhos às minhas noites, cânticos às minhas manhãs, objectivos aos meus dias e desejos solares aos meus crepúsculos vermelhos. Tu dás sem fim. E eu ajoelho-me e estendo os braços para receber a tua graça. Ó generosa! Sou tudo aquilo que queres. E serei escravo ou rei conforme ralhes ou sorrias. Mas és tu que me fazes ser.

Isto, dir-to-ei muitas vezes, muitas vezes. A minha confissão amadurecerá, cada vez mais simples e nua. E o dia em que tiver conseguido torná-la perfeitamente simples e em que a compreendas perfeitamente, será o primeiro dia do nosso Verão. Que durará mesmo para além dos dias do teu René.

Virás, hoje?

Rainer Maria Rilke, in 'Carta a Lou Andreas-Salomé, 10 de Junho de 1897'

*Mantida a grafia original

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