terça-feira, 6 de março de 2018

Só depois que já estava sentado ao meu lado, porta do táxi fechada, percebi o estado do meu cliente: duro na cachaça.
 
Com voz pastosa, o bebum ordenou que eu o lavasse até o "bar do Zé". Irritou-se quando eu perguntei aonde ficava tal estabelecimento - na cabeça embriagada dele, todos deveriam conhecer o local. Após alguns segundos contemplando o infinito, ele forneceu uma pista: Azenha. Vambora.
 
Alguma coisa havia acontecido no bar do Zé. O lugar estava cercado por curiosos, duas viaturas da polícia sobre a calçada e o que parecia ser o corpo de um homem estirado no chão, coberto por uma toalha de mesa.
 
- Bah, assaltaram o Zé de novo, taxista.

- Acho que foi mais do que um assalto...

- Será que tá funcionando? Preciso só mais um gole, vou ver se o Zé me atende. Pode deixar o taxímetro ligado.
 
Meu cliente entrou cambaleando pelo meio dos policiais, afastando a fita de isolamento, quase tropeçando no morto. Bateu boca. Não demorou a ser expulso da cena do crime. Voltou para o táxi indignado, de bico seco.
 
- Ué, o Zé não pode te atender?

- Não.

- O que ele disse?

- Nada. Tá lá, deitado no chão.
 
Mauro Castro
Taxitramas 

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