Só se tolera o que não é bom, e isto circunstancialmente, seja para
evitar um mal maior, seja em ordem a um bem mais valioso. Assim, por
exemplo, podemos tolerar os defeitos de um amigo para manter a amizade,
do cônjuge para não se desfazer o casamento e os nossos próprios para
não enlouquecermos, por excesso de escrúpulos.
Tolerância não é algo que se ostente, pois além de tudo não é sequer princípio moral.
A tolerância será boa apenas quando estiver conformada pela virtude
da prudência. Em todos os demais casos ela é falha grave ou gravíssima,
razão por que tem comumente outros nomes: tolerar o vício é
permissividade; tolerar a mentira, cumplicidade; tolerar a maldade,
covardia; tolerar o erro, estupidez; tolerar a tirania, suicídio
político; tolerar a louvação da mediocridade, assassinato
civilizacional.
Apresentar-se como tolerante é velhacaria típica do caráter
sucumbido ao espírito de rebanho. O balido dos tolerantes
autoproclamados é, pois, o das ovelhas carnívoras prontas a canibalizar
quem não adere ao seu grupo.
A intolerância, por sua vez, será boa sempre que representar a
adesão a princípios inegociáveis: a verdade, o bem, a beleza moral…
O mundo que quer enfiar a tolerância goela abaixo de todos, como se
ela fora dever moral, tem um nome: inferno. Esta é a mais terrível
maneira de ser intolerante.
Onde é proibido proibir, impera o mal.
Por Sidney Silveira
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